Sunday, April 17, 2005


Cahora Bassa - visão espectacular da construção

HISTÓRIA DE CAHORA BASSA ( 8 )

A Missão de Fomento e Povoamento do Zambeze (MFPZ)

Como já foi possível observar, tanto o Zambeze como a sua área de influência eram há muito conhecidos dos portu­gueses, e desde há longos anos se conjecturavam as suas riquezas escondidas, embora, por motivos diversos, entre os quais a nova visão e posicionamento político internacio­nais do Governo Português do pós-guerra, as experiên­cias de desenvolvimento em áreas semelhantes, como foi o caso dos projectos de desenvolvimento da zona do rio Tennesse, nos Estados Unidos da América, só em meados dos anos 50 se começou a olhar para a bacia hidro­gráfica do Zambeze como uma estrutura de desenvolvi­mento económico capaz de se autofinanciar a partir de um "motor de arranque", que após aturadas discussões, avanços e recuos, propostas e contra­propostas, pressões políticas e económicas, etc., viria a ser a barragem de Cahora Bassa.
Com efeito, a tomada de consciência das vastas riquezas por explorar naquele território, aliada à necessidade de inverter a má imagem que Portugal detinha a nível internacional relativamente ao desenvolvimento das suas possessões ultramarinas, levam o Estado Português a incrementar o estudo em várias regiões africanas, nomeadamente na bacia hidrográfica do Zambeze em território moçambicano.
Tratando-se neste caso especifico, de uma extensíssima área a estudar, foi necessário criar uma instituição que, dotada dos competentes recursos, fosse capaz de cumprir o projecto em tempo útil, que se dese­java o mais curto possível - é deste modo que, em 1957, nasce a Missão de Fomento e Povoamento do Zambeze (MFPZ), com a finalidade de "proceder ao reconheci­mento sistemático dos recursos da bacia hidrográfica do rio Zambeze em território de Moçambique, organizar os planos de aproveitamento e desenvolvimento dos mesmos e elaborar os projectos que para tal lhe forem determina­dos", cuja orientação e a elaboração dos estudos que conduzissem ao plano de desenvolvimento da área em questão, em colaboração com aquela entidade pública, ficaram a cargo da Hidrotécnica Portuguesa (HP).
A diversidade de assuntos a tratar, obrigou a constituição de vários grupos especialistas em cada uma das áreas, as Brigadas de Agricultura, de Engenharia Hidráulica, de Geologia e Prospecção Mineira e de Estudos Económico-Socias, tratavam, respectivamente, de seleccionar e caracterizar as áreas de possível aproveitamento agrícola, classificando-as segundo a sua capacidade de uso, de efectuar os reconhecimentos necessários à definição das obras a efectuar para a produção de energia eléctrica, rega, navegação e regulari­zação fluvial, de fazer o reconhecimento e avaliação primária do valor potencial dos recursos do subsolo, de inventariar e analisar as actividades e os recursos humanos, bem como estabelecer, as formas mais aconselháveis, social e economicamente, de mobilizar os recursos. Por outro lado, aos Serviços de Silvicultura e de Veterinária, competiria ao primeiro, indicar as manchas de floresta indígena com valor económico e sua potencialidade para produção de madeiras, as manchas de floresta que neces­sitassem de protecção e as que apresentassem aptidão para o estabelecimento de florestas exóticas, e ao segundo, indicar e classificar as zonas onde pudesse existir inte­resse económico para explorações de gado de carne, de produção de leite e outros, bem como estabelecer os métodos técnica e economicamente aconselhados para a exploração de gado para os diferentes fins.
Em 1958, tal como tinha sido programado, a Hidrotécnica Portuguesa apresentou um «relatório preliminar» que, em três volumes, condensava os estudos efectuados pelos vários grupos de trabalho da MFPZ, relatório esse que estava dividido em três blocos: (1) caracterização geral do espaço em estudo, (2) possibilidades de desenvolvimento, (3) e o programa de trabalhos e respectivos custos.
Embora, com um pequeno atraso sobre o prazo previsto, mas apenas três anos passados, foi dado a conhecer o «esquema geral» que reunia a totalidade dos estudos realizados e apresentava um "esquema de arranque" que, a ser apro­vado, serviria de apoio à estruturação do Plano Geral, que dado à luz em 1965, foi o corolário de quase uma década de investigações levadas a cabo por várias dezenas de técnicos, dos quais mais de um terço com formação universitária, apoiados com os meios necessários, desde viaturas todo-o-terreno a embarcações, aeronaves e equipamento mais especializado.
Contendo o anteprojecto das obras escolhidas, bem como o planeamento dos empreendimentos considerados vitais para o início do que se pensava vir a ser o desenvolvi­mento de uma das mais atrasadas, mas paradoxalmente mais ricas, áreas do então Ultramar Português, o Plano Geral defendia a criação de actividades passíveis de gerar um crescimento sustentado que, "mais cedo ou mais tarde viesse a transformar o panorama económico e social", actividades que eram, grosso modo, a produção de energia - onde o aproveitamento de Cahora Bassa, dado o baixíssimo custo da energia, era primordial - e, ligada àquela, a exploração de minérios e a sua transfor­mação nas proximidades, a que se aliava o desenvolvi­mento agrícola com a construção de complexos sistemas de rega alimentados, tanto pela albufeira a criar a montante de Cahora Bassa, como por um Zambeze regu­larizado a jusante.
Feito o estudo, era, agora, necessário analisar a viabilidade político-económica dos projectos propostos
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Wednesday, April 13, 2005

CAHORA BASSA - PAREDÃO E DESCARREGADOR


CAHORA BASSA - Vista espectacular do paredão e do descarregador

HISTÓRIA DE CAHORA BASSA ( 7 )

O Estado Novo e Política Colonial
Convencidos da "missão civilizadora" que Portugal detinha, historicamente, nas suas possessões ultramari­nas, em especial em África, os governantes portugueses, que se impuseram através do pronunciamento militar de 28 de Maio de 1926, iniciaram a construção de um instrumento teórico-legal, em relação àqueles espaços, que se corporizou no Acto Colonial de 1930, inserido na Constituição de 1933. Na realidade, viviam-se os tempos dos "impérios coloniais" e o Governo Português de então, a exemplo de outros, mostrava-se preocupado no desen­volvimento dos espaços que considerava essenciais para a sua própria sobrevivência.
O Acto Colonial procurava delinear a colonização e a defesa desses territórios, bem como resolver os proble­mas financeiros, mais ou menos graves, com que estes se debatiam.
No entanto, durante largos anos, não se assistiram a grandes mudanças, e apenas a partir do final da Segunda Guerra Mundial, dispondo de uma acumulação considerável de capitais, com o advento das ideias da autodeterminação dos povos, das primeiras independências em África e, fundamentalmente, iniciadas as lutas por essa inde­pendência nos seus próprios territórios ultramarinos é que o Governo do Estado Novo se começa a interessar pelo desenvolvimento efectivo desses espaços. Assim, ao grande movimento de capitais para África no final dos anos 40 do séc. passado, segue-se a construção teórica de um futuro "Espaço Económico Português" baseado na criação, sobretudo em Angola e Moçambique, de economias fortes que, juntamente com a metropolitana fizessem parte do pretendido "Portugal pluricontinental e pluriracial".
Várias foram as tentativas para conseguir concretizar aquilo que se tinha teorizado, desde a criação de infra-­estruturas até à política de colonização e povoamento agrícola de várias regiões, embora nada tivesse resultado tal qual se espe­rava.
A partir dos anos 60 do séc. anterior, o Governo Português, pres­sionado pela comunidade internacional que observa, e critica, os acontecimentos que se desenrolam em África, aumenta o esforço de criação de infra-estruturas e projec­tos de desenvolvimento, em especial em Angola e Moçambique, que possibilitassem uma rápida recuperação do atraso economico-social destes territórios, em cujo âmbito encontramos variadíssimas obras que arrancam a "todo o vapor", entre as quais uma a quem alguém já chamou "a obra do século em África": o empreendimento de Cahora Bassa
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Monday, April 11, 2005

ZAMBEZE


Zambeze - o rio visto de jusante do paredão da barragem e mostrando a famosa "garganta" de que falava Gago Coutinho

HISTÓRIA DE CAHORA BASSA ( 6 )

A "descoberta" de Cahora Bassa

Embora existam notícias de algumas expedições, mais ou menos científicas, ao Zambeze, é em meados do séc. XIX que estas se generalizam, como os de Livingstone, Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo ou Roberto Ivens, viagens de explo­ração essas que, umas mais que outras, trazem a público descrições sobre o interior de África, até então quase totalmente desconhecido.
Foi contudo Livingstone que mais se aproximou do local onde hoje se encontra a parede da barragem de Cahora Bassa - iniciada em 1855, a sua expedição tinha como objectivo mostrar que o Zambeze poderia servir como eixo de ligação entre o interior africano e o Índico.
Tendo falhado a primeira tentativa, deixou os seus companheiros em Tete e voltou à Europa em busca de maiores apoios, regressando ao Zambeze passados cerca de três anos, apetrechado com embarcações desmontáveis que pensa serem capazes de vencer a forte corrente - depois de várias tentativas, a última das quais quase fatal, desistiu do seu propósito afirmando que era impossível passar as cataratas de Cahora Bassa; no entanto, como se verá mais adiante, as cataratas a que chegou ainda ficavam distantes da famosa garganta.
Só no início do séc. XX, mais exactamente no ano de 1905, um cientista português - Gago Coutinho - conse­guiria chegar até onde, ao que parece, nenhum outro europeu tinha chegado. Foi dele que ficou a "explicação" do nome de Cahora Bassa. Fazendo parte de uma viagem de carácter científico cujo objectivo era o «estudo das relações hidrográficas dos dois grandes rios [Congo e Zambeze] e a exploração da parte desconhecida do Zambeze entre os dois pontos navegáveis, o Zumbo, a mais longínqua povoação localizada no curso inferior do rio, já em território moçambicano, e Tete», Gago Coutinho procedeu a levantamentos cartográficos, inven­tariou recursos minerais e vegetais, exaltou as potencialidades ­energéticas com a possibilidade de tomar o Zambeze navegável, da foz ao Zumbo.
Do cimo do pico de M'Panda Unkua conseguiu vislum­brar as claras diferenças entre o Alto e o Baixo Zambeze, referindo-se nos seguintes termos, relativamente à navega­bilidade do rio: «a navegação feita em escaleres termi­nava ali pelo Baixo Zambeze. Daí para cima a água vem a passar tão subtil num pequeno ribeiro de baixa espessura que nos parece não poder comportar a imensa toalha líquida que se estende em quilómetros de largura. As margens que o rodeiam são igualmente baixas e quietas, e o rio para cima passa a oferecer uma paisagem comple­tamente diferente, num contraste abrupto e inquietante, fecha a passagem e formando um imenso túnel, de altura descomunal, onde as águas batem com violência. A nave­gação não avança dali».
Continuando a sua jornada para montante, Gago Coutinho passa pela Porta do Inferno, mesmo em M'Panda Unkua, para se embrenhar nos difíceis caminhos de Cahora Bassa, até que chega a um local «onde as águas plácidas pareciam repousar num sono calmo, o Zambeze escorrega formando um lençol branco de espuma, uma queda colossal, imponente, «a única exis­tente em toda a Kahoura Basa» segundo revelou Livingstone. (...) Gago Coutinho extasiado, admirava o espectáculo ímpar que a natureza oferecia em sitio tão escondido e de todos ignorado. Um indígena que acorria ao local, entre assustado e curioso com a visão de dois homens tão diferentes, confirmou tratar-se da catarata Kasongo, muito distante ainda de Kaboura Basa. De Kasongo até Chikoa outras cataratas iriam surgir pelo caminho".
O termo Cahora Bassa foi então explicado, pelo explorador português, como significando, no dizer das gentes do Baixo Zambeze, "acabou o trabalho” ou, se quiser­mos uma tradução mais literal, "apodreceu o trabalho". Significava isto que, como não era possível aos habitantes da região passar com as suas embarcações a partir daquele ponto, a viagem de subida do rio acabava ali e, portanto, os trabalhos também - por outro lado é curioso notar o desconhecimento do termo por parte das, então raras, populações do Alto Zambeze que, inclusivamente, achavam o nome "caricato e humorístico”.
Deve-se, pois, a Gago Coutinho o primeiro estudo cien­tífico, objectivo e sustentado, da área de que falamos, bem como do primeiro desenho do percurso do Zambeze que, por ser diferente do desenhado por Livingstone, o levou a fortalecer a ideia que o explorador botânico não teria reconhecido a totalidade do troço de Cahora Bassa, nomeadamente em relação à garganta do mesmo nome - relativamente a esta, Gago Coutinho, com o objectivo de a melhor ilustrar aos seus conterrâneos, escreveu num artigo que "(...) aos que, em Lisboa (...) desejarem adqui­rir uma noção mais concreta sobre o que é essa misteriosa quartelada do grande Zambeze, poderemos indicar-lhes que a Cabora-Bassa, não tendo mais largura do que a nossa praça do Rossio, está contudo entalada entre montes seis a oito vezes mais altos do que o elevado morro do Castelo de S. Jorge, que, com os seus mesquin­hos cem metros de altura, já tanto nos assoberba quando o avistamos cá de baixo, (...). A água, na estação seca, ocuparia a parte central já empedrada, (...) mas nas grandes cheias, toda a elevada casaria seria coberta e a corrente revolta iria bater nas ruínas do Carmo e enfe­rrujar a fábrica do relógio.”
Cerca de cinquenta anos depois da viagem exploratória de Gago Coutinho, em 1956, um outro técnico - o Prof. Alberto Abecassis Manzanares, falecido recentemente em 2004 - haveria, também ele, de se referir ao Zambeze em território moçambicano como um troço que, “conta com as maiores possibilidades económicas do que porventura qualquer outro troço de rio idêntico em África ou até noutros continentes - o estudo do esquema do seu aproveitamento integral não pode ser obra de anos, nem talvez de uma década. Se for considerado que no troço [moçambicano] a energia potencial do rio se aproxima dos 50 biliões de unidades (kwh), dos quais mais de metade são recuperáveis num troço relativamente curto - visto, tanto quanto se conhece agora, ele não ir muito além de 100 km - ter-se-á a noção da grandeza do valor potencial do rio." Estava lançado, definitivamente, o repto que, pouco depois, seria assumido
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Saturday, April 09, 2005

MOÇAMBIQUE - COMPANHIAS MAGESTÁTICAS


Mapas de Moçambique - o de 1911-18 delimita as fronteiras das 3 Companhias Concessionárias

HISTÓRIA CAHORA BASSA ( 5 )

As companhias concessionárias

Durante o séc. XIX, os países europeus aumentam o seu interesse por África quer pela procura de novos mercados, quer pela necessidade de encontrar novas fontes de matérias-primas, quer por outras razões mais ou menos discutidas entre especialistas. Algumas nações europeias mais influentes - como a Alemanha ou a Bélgica - não detêm colónias africanas e é exactamente em Berlim que se organiza uma conferência onde se pretende discu­tir a "partilha de África".
Ao argumento português da "posse histórica" das suas colónias, as outras potências respondem com a decisão de que esta só será tomada em consideração, se houver a posse efectiva do território reclamado. Ou seja, à posse de colónias precedia o domínio militar da costa (não tendo a proposta inglesa, de estender essa exigência ao interior, obtido vencimento).
A necessidade de cumprir o exigido levou Portugal, país sem gente e meios suficientes, a encontrar outras alterna­tivas "arrendando" parte da sua grande colónia mais afas­tada - e por isso mais difícil de administrar - ao capital estrangeiro, com o intuito de melhor poder exercer os direitos territoriais que julgava deter. Estes "arrenda­mentos" corporizaram-se na concessão de amplas parce­las de terra a companhias privilegiadas.
Foram três as mais importantes companhias constituídas, no centro e norte de Moçambique:
Companhia de Moçambique: negociada em 1888, foi a primeira e mais importante, tendo sido dotada de poderes majes­táticos sobre os distritos de Manica e Sofala, entre os quais o poder de cobrar impostos, comprometendo-se a construir infra-estruturas básicas e a atrair colonos;
Companhia do Niassa: seis anos mais nova que a ante­rior e dotada dos mesmos poderes, nunca chegou a ser tão importante - com a concessão inicial de promover a ocupação de um espaço, desabitado por europeus, a norte do rio Lurio, por vicissitudes várias acabou por desistir dessa pretensão e dedicou-se, fundamentalmente, a cobrar impostos e a fornecer mão-de-obra africana às minas da África do Sul, sendo "a própria produção tradicional dos africanos que alimentava as vendas ao exterior e o rendi­mento geral da Companhia";
Companhia da Zambézia: de constituição semelhante às anteriores, embora não possuísse os mesmos poderes, detinha a concessão de grande parte do distritos de Tete onde tentou, sem contudo o conseguir, encontrar recursos mineiros - fomentou a produção e exportação de óleo de palma e subarrendou parte das suas terras, tanto a norte como a sul do Zambeze à Companhia de Açúcar de Moçambique, mais conhecida como "Sena Sugar Estates".
O declínio do "império" destas companhias parece iniciar-se com o aumento da ocupação efectiva das terras, bem como do controlo exercido pelas autoridades portu­guesas, a partir das "campanhas de pacificação" que se verificaram, em Moçambique, nos últimos anos do séc. XIX.
A exemplo do que os Governos da I República tinham iniciado, a política económica do Estado Novo - enveredando pela "nacionalização" dos territórios coloniais – esforçou-se por fazer desaparecer os privilégios das grandes companhias o que, pouco a pouco, acabou por conseguir.

CAHORA BASSA - DESCARREGADOR SUPERFÍCIE


CAHORA BASSA - Descarregador de superfície

Friday, April 08, 2005

HISTÓRIA DE CAHORA BASSA ( 4 )

Os prazos da Coroa

Pouco mais de um século tinha passado, desde a primeira viagem de Vasco da Gama, e a Coroa Portuguesa tenta implantar um método de "ocupar" as terras africanas, de entre os quais o sistema dos «prazos» foi, sem dúvida, um dos mais importantes - em troca de uma renda, então chamada "foro", uma determinada parcela de terra, bem como os seus habitantes, era entre­gue por "três vidas", tendo como contrapartida os prazeiros de, além do pagamento da renda, manter os caminhos em bom estado, defender o seu espaço e cobrar o imposto.
Curiosa, no mínimo, era a forma como, inicialmente, a sucessão dos prazos era feita, pois fosse por tradição local - as sociedades matriliniares -, fosse pela tentativa de garantir o máximo de sangue europeu, a lei estabelecia a herança através de "pessoas do sexo feminino, descendentes de portugueses da Europa com obrigação de casarem com portugueses de igual origem; e na sucessão das vidas a fêmea excluía o varão" - isto é, as mulheres tinham sempre prioridade na obtenção de um prazo e a sua herdeira era a filha mais velha, apenas no caso desta não existir, o prazo passaria para o filho ou para o marido.
Teoricamente, eram motivos suficientes para a Coroa retirar as terras aos seus possuidores, o casamento em desconformidade com a lei, o facto de não residir no prazo ou, ainda, o de não o valorizar - todas estas dificuldades, impostas por Lisboa, pretendiam o fortale­cimento da colonização europeia, bem como travar o cres­cimento dos prazos, mas nada disto foi conseguido, antes pelo contrário.
De facto, se por um lado rareavam os portugueses euro­peus, por outro o escoamento dos produtos agrícolas do interior era difícil, senão impossível, pelo custo que acarretava, e para agravar este panorama, existiam comér­cios altamente rendíveis que comprometiam o futuro da agricultura, tais como o marfim e o ouro e, fundamentalmente, os escravos, que possibilitavam, a quem os transaccionava, a rápida obtenção de fortunas incalculá­veis e, com elas, o poder.
Foi deste modo que muitos dos senhores dos prazos viram aumentar o seu território e, consequentemente, a fortuna e poder, de uma maneira que talvez os Governos de então nem suspeitassem vir a ser possível. Existem relatos de prazos de proporções impressionantes: "Por exemplo: o prazo de Cheringoma situado no local entre a futura Beira e o Zambeze (com uma frente marítima de 200 km), ladeava a margem sul do rio ao longo de 180 km e ocupou o interior até ao rio Zangue, fronteira do macro-prazo da Gorongosa (...) onde havia em 1802, 2120 aldeias africanas e que exigia vinte dias de marcha para ser atravessado.
Outro prazo, no inte­rior do distrito de Quelimane, tinha em 1843-1846 uma superfície superior à de Portugal e possuía 30 000 habi­tantes”.
Em resposta a este enorme poder e à consequente mono­polização comercial, a partir do início do séc. XIX, o comércio do ouro e do marfim foi sendo gradualmente desviado para rotas mais favoráveis a afri­canos e suahilis, ficando os prazeiros apenas com uma mercadoria de alto lucro, o escravo - era o começo do fim dos prazos e dos seus senhores, que começaram por vender os colonos das suas terras, e chega­ram a tal sangria da população que foram obrigados a vender os seus próprios "chicundas", e outros invadiam prazos mais fracos subtraindo-lhes população. O resul­tado desta destruição das fontes de obtenção de riqueza dos prazos, foi a ocupação pelos vizinhos mais fortes que, pouco a pouco, os foram conquistando, opor­tunidade não desperdiçada pelo Estado do Barué, ou pelo próprio Monomotapa que ocuparam terras fronteiriças aos seus territórios, tendo este último chegado as portas de Tete.
Outra das mudanças operadas na região foi a movimen­tação dos Ngunis (ou Angunes) que, vindos do Natal, subiram até à região do Zambeze, e se insta­laram na zona de Gaza, fundando um Estado que só iria cair às mãos de Mouzinho de Albuquerque, no deco­rrer das guerras de "pacificação"
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CAHORA BASSA - PAREDÃO DA BARRAGEM


Cahora Bassa - Paredão da Barragem

Thursday, April 07, 2005

HISTÓRIA DE CAHORA BASSA ( 3 )

Os primeiros contactos dos portugueses

A primeira notícia que, em Portugal, se encontra deste magnífico rio chega-nos através do «Diário de Álvaro Velho» da viagem de Vasco da Gama de descoberta do caminho marítimo para a Índia. Neste relato, ao actual Zambeze chamaram o "Rio dos Bons Sinais", sinais que não eram, de acordo com o narrador daquela viagem, os do interior da terra que nessa altura tocaram, mas os que indicavam que íam chegando para onde desejávam, ou seja, à Índia.
De qualquer modo, não tardou muito para que os primeiros portugueses, recém chegados à costa de Moçambique, gradualmente, se interessassem pelo inte­rior através do Zambeze. Na verdade, são inúmeras as referências à penetração para o interior, logo a partir do primeiro quartel do século XVI. Assim, segundo René Pélissier, "Os Portugueses, deixando de vegetar no forte de Sofala (1505), que nunca teria a importância do da ilha de Moçambique, penetraram no interior, pela primeira vez, em 1513, na direcção das terras do "Mwene Mutapa" e infiltraram-se igualmente ao longo do Zambeze. Substituindo gradualmente os Suahilis, instalaram as suas feiras (1) os seus sertanejos, os seus mestiços e as suas guarnições na direcção das minas ".
O território em causa era, já na altura, uma zona de excepção de penetração por parte dos exploradores portugueses, conclusão tirada ao depararmos com os relatos de outros historia­dores que referenciam estes factos. E o caso de Francisco Bethencourt e de Russell-Wood que afirmam que a presença portuguesa em África, em especial em Moçambique, raramente ultrapassou os limites dos portos e fortalezas costeiras, tendo falhado, pelo menos até ao século XIX, as diversas tentativas de exploração e ocupação das terras de interior, excepto no que concerne a regiões bem delimitadas como é o caso do Zambeze. Aqui, a partir da costa, verificou-se "uma dispersão de portugueses de Moçambique (ilha) pelo vale do Zambeze acima até Sena e Tete, chegando à zona do Planalto".
Estes primeiros exploradores eram, fundamentalmente, comerciantes e aventureiros que procuravam riquezas num espaço desde há muito conhecido localmente como gene­rosamente dotado de produtos raros. Data de 1505 a existência de uma fortaleza, instalada por Pêro d'Anaia (2) em Sofala, com a qual se pretendia controlar o comércio que chegava à costa, a exemplo do que, anos antes, se tinha feito na costa atlântica - São Jorge da Mina - com os excelentes resultados que se conhecem. Era, em espe­cial, o ouro que se pretendia resgatar, em que a observação feita pelos portugueses a esse comércio, efectuado entre afri­canos e "mouros", dava-lhes indicações que se poderia ganhar "cento por um" nas transacções que efectuavam a partir dos seus barcos.
Contudo, tornava-se necessário que fossem apreendidas as necessárias diferenças entre as gentes que aqui acorriam a negociar - que ficaram então conhecidas por Cafres - e aquelas outras que chegavam à Mina. Os súbditos desse grande soberano Mwene Mutapa, ou Monomotapa, estavam há muito integrados nas redes comerciais do Índico e os produtos que os portugueses lhes ofereciam não eram apreciados, pois o que queriam era "cambaia", ou seja, «panos», tanto assim que a partir do momento que se tornou clara essa realidade, o ouro começou a correr.
Mas os comerciantes queriam mais, e essa foi uma das razões para que a penetração para o interior se concreti­zasse, caminho que levava ao reino de Monomotapa e das suas riquezas, instalando-se nos melhores locais de comércio: Quelimane, Sena, Tete ou, mais tarde, o Zumbo, todos junto ao Zambeze que, já na época, funcionava como via de comunicação.
Com o decorrer do tempo as fixações no vale do Zambeze foram-se transformando, evoluindo ao sabor das lutas pelo domínio do comércio, do espaço e das gentes - uma das características que muitos dos portu­gueses adquiriam em Moçambique em geral, e neste espaço em particular, era uma certa assimilação da cultura local. Sobre este assunto Russell-Wood afirma que "são ilustrativos (os potenciais modos) da «indianização» ou «africanização» de alguns homens portugueses (...) muitos deles foram totalmente assimilados em termos religiosos, culturais, comportamentais e linguísticos (...). Para utilizar a expressão utilizada por Allan Isaacman aos prazeiros do vale do Zambeze, esses portugueses trans­formaram-se em transfrontiersmen. (...) se houve indivíduo cujos feitos, factuais ou fictícios, preconizam muitas das características dos portugueses que viveram «fora do império», esse indivíduo foi o alter ego criado por Fernão Mendes Pinto». Uma das explicações mais utilizada para que este facto se verificasse mais em Moçambique, do que nas outras colónias, foi a da maior distância que separa este país de Portugal, o que contribuía para esse, também maior, afastamento físico e psicológico.
(1) Paradigmático desta passagem pelos portugueses nesta época é que ainda hoje a primeira vila em território da Zâmbia se chama "Feira" ( do outro lado do Zumbo em Moçambique, atravessando a albufeira de Cahora Bassa e cujo nome deriva das feiras então realizadas pelos portugueses naquele local) - ver localização no mapa
(2) O liceu na cidade da Beira onde fiz o ensino liceal até ao 7.º ano, tinha precisamente o nome de Pero d'Anaia.

LICEU PÊRO D' ANAIA


Liceu Pêro D'Anaia (Beira) - fotografia recente

Tuesday, April 05, 2005

HISTÓRIA DE CAHORA BASSA ( 2 )

O povoamento humano do Zambeze
Não tendo certezas sobre as populações que viviam no actual território de Moçambique em épocas mais remotas, a maior parte dos historiadores inclina-se para as classificar como comunidades de caçadores e pescadores, a exemplo do que se verificava noutras áreas contí­guas.
Porém é possível adiantar quanto à época em que se verificaram vastos movimen­tos populacionais que chegam à África Austral por volta do séc. III da era cristã, cujo aspecto mais relevante é o de possuírem uma língua comum («bantu» que significa "plural de homem") e cujas movimentações ficaram vulgarmente conhecidas como «expansão bantu».
Estes «povos bantu» que já dominavam a metalurgia do ferro e as actividades agro-pecuárias, foram-se organizando nas tradicionais famílias alargadas e, estas, em linhagens mais ou menos poderosas, dando origem a sociedades complexas, onde os nobres viviam de tributos dos hierar­quicamente inferiores e a escravatura (ao contrário do que geralmente se pensa embora muito distinta daquela que os europeus promoveram em séculos posteriores, a escravatura era em África pré-existente à chegada daqueles) detinha um papel importante.
Alguns séculos se passaram antes que estas sociedades conhecessem influências exteriores passíveis de as trans­formar profundamente - de facto, só a partir do séc. IX, os árabes-suahilis - vindos do Norte - se estabele­cem na costa moçambicana e promovem as trocas comer­ciais dos ricos produtos do interior, nomeadamente ouro e marfim, pelas mercadorias do comércio do Índico, processo que evoluirá até ao séc. XII, época em que as cidades suahilis atingem o seu máximo esplendor.
Entretanto no interior, a partir do séc IX, entre os rios Zambeze e Limpopo, outra civilização ganha importância gradual devido ao advento do comércio de longa distância «o Grande Zimbabwe» que veio a ocupar não só o território do país seu homónimo, como vastas áreas subjacentes, nomeadamente em Manyikeni, a cerca de cinquenta quilómetros da baía de Vilanculos, em pleno sul do actual território moçambicano. Esta importante sociedade, que parece ter florescido na razão directa da decadência de uma outra que, situada mais a Sul, tinha a capital em Mapungubwe, deixou-nos inúmeros vestígios arqueológicos, em especial "uma acrópole, um palácio real e impressionantes muralhas de quase nove metros de altura que podiam ser habitadas por três mil e quinhentas pessoas" (1) e que só desaparece por volta do séc. XV.
Surge, nesta mesma época, um novo Estado que adoptando o nome dos seus reis, o reino do «Mwene Mutapa» ou "Monomotapa", e que veio a deter um imenso terri­tório que se estendeu pelo vale do Zambeze, até às imediações da cidade de Tete, apenas desaparecendo no início do nosso século - a importância deste reino poderá ser facilmente calculada se pensarmos que a evocação do seu nome, na Europa dos Descobrimentos, era equiva­lente à imagem de riquezas sem fim, em busca das quais diversos aventureiros portugueses de então se dispuseram a subir o Zambeze, procurando descobrir a "galinha dos ovos de ouro".
Por último, deve-se referir a existência de outro impor­tante Estado, o Estado Marave que, situado a norte do Monomotapa, se instalou em parte do território do actual distrito de Tete e no do actual Malawi, constituído por populações vindas do interior chega a ameaçar o poder suahili mas desaparece, enquanto poder unitário, no decurso do séc. XVIII.
É este o cenário que os primeiros portugueses encontram quando se estabelecem na costa oriental africana a partir do final do séc XV e, a pouco e pouco, tomam contacto com o Zambeze.
(1) Na vila do Songo, onde se situa a barragem de Cahora Bassa, existem ainda hoje as ruínas de um "zimbabwe" - diminuto quando comparado com as do "grande zimbabwe" existentes no actual Zimbabwe - mas que ainda assim merecem ser vistas para se compreender o que era um zimbabwe, fortificação situada em ponto elevado cercada de muralhas e dentro das quais se algomeravam as habitações.

VILA DO SONGO


Vila do Songo (Bairro Sul)

CAHORA BASSA (SONGO)


Estrada e linha de energia que ligam a barragem (Central) à Vila do Songo e à Subestação

Monday, April 04, 2005

HISTÓRIA DE CAHORA BASSA (1)

A Hidroeléctrica de Cahora Bassa SARL, (HCB), como empresa, nasceu num período conturbado da história dos dois países que dela são accionistas: Portugal e Moçambique. De facto, quando foi criada em meados de 1975, enquanto o primeiro dava os primeiros passos numa democracia ainda mal cimentada, o segundo caminhava a passos largos para uma independência com muitos sobressaltos. O seu objectivo era, e continua a ser, o de gerir uma barragem construída no Zambeze que fornecesse energia abundante, fundamentalmente à África do Sul, através da ESKOM - sociedade sul-africana de produção e distri­buição de electricidade -, mas também a Moçambique. Para se compreender, com alguma clareza, como cresceu este enorme projecto de desenvolvimento teremos que recuar no tempo, reflectindo sobre uma muito sintética caracterização do espaço em questão, com vista a descobrirmos esse fio condutor que liga a história aos homens.

O Zambeze grandioso

No coração de África nasce um dos maiores rios do mundo: o Zambeze. Integrando territórios de países como o Congo (ex-Zaire), Angola, Zâmbia, Namíbia, Botswana, Tanzânia, Malawi, Zimbabwe e Moçambique, a sua bacia hidrográfica espraia-se por uma área de cerca de um milhão e duzentos mil quilómetros quadrados, ou seja, mais de treze vezes a superfície de Portugal continental ou mais de uma vez e meia a de Moçambique. Com uma extensão de aproximadamente 2700 km de comprimento, 830 km dos quais em Moçambique, os afluentes que encontra pelo caminho fazem-no crescer até ao encor­pado rio que podemos encontrar em terras moçambicanas.
Funcionando como eixo desta vasta área, o Zambeze possibilita a navegação desde o Zumbo, na fronteira de Moçambique com o Zimbabwe e a Zâmbia, até ao paredão da barragem de Cahora Bassa, construída no exacto local onde se situavam os famosos rápidos com o mesmo nome e que permitiu, a montante, o aumento do calado das embarcações que por ali queiram navegar. A fundamental diferença entre o antes e o depois da construção da referida barragem, em relação ao troço a jusante de Cahora Bassa que segue por mais de quinhentos quilómetros até à foz, foi a possibilidade de regularização do rio, proporcionando um caudal mais constante, factor altamente favorável às populações que habitam nas suas margens.
Contribuindo para os elevados caudais médios do Zambeze que, em Moçambique, oscilam entre os 900 (na estação seca que, em regra, decorre entre Maio e Outubro) e os 10.000 metros cúbicos por segundo (na estação húmida, normalmente verificada entre Novembro e Março), estão outros grandes rios, afluentes do primeiro. E influenciando directamente a bacia hidrográfica em território moçambicano, encon­tram-se três dos maiores: o Arângua, o Luia e o Chire. Contudo os valores apresentados são, como o próprio nome indica, valores médios. Donde se verifiquem, claro está, situações em que os valores mínimos ou máximos de caudal líquido se afastam dos considerados. Assim, no dia 25 de Março de 1978, quando a barragem tinha menos de três anos de idade, foi medido o pico máximo de dezassete mil e setecentos metros cúbicos por segundo, naquilo que foi considerada uma "cheia milenar".
Apesar dessa contingência inesperada, e de ter sido neces­sário abrir as oito comportas da barragem, bem como o descarregador de superfície, todo o empreendimento se comportou à altura do desejado, tendo esta prova sido considerada um importante teste à resistência e eficiência do projecto ( a fotografia da barragem que consta do blog comprova esse momento descrito).

Sunday, April 03, 2005


Barragem de CAHORA BASSA

CAHORA BASSA

Em determinado momento da minha vida fui convidado a assumir o lugar de Director de Pessoal da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, na sede da empresa situada no Songo, o que significando o meu regresso a Moçambique, nem por um momento me fez hesitar na aceitação desse desafio.
Acabou por ser durante quase 14 anos a mais profunda e enriquerecedora experiência da minha vida, tanto do ponto de vista pessoal como profissional, o que justifica que independentemente de todas as vissicitudes actuais (das condições e da razão porque foi construída, se e quando a gestão do empreendimento passará de Portugal para Moçambique, se será a África do Sul, como parece, que continuará a ser a maior beneficiária da exploração da barragem, etc., etc.) justifica que se faça a história deste gigantesco empreendimento hidroeléctrico (ainda hoje a 5.ª maior barragem do mundo) construída pelos portugueses no rio Zambeze em Moçambique.
Cahora Bassa ( e não Cabora Bassa como os portugueses por abastardamento do nome gentílico a designavam ) significa em língua chinguwe o “trabalho (bassa) acabou (cahora)” com isso se querendo significar que no local onde foi construída a barragem, o rio deixava de ser navegável e aí terminaria o trabalho dos remadores das embarcações que à época transportavam pessoas e mercadorias ao longo do Zambeze.
Se de facto era assim ou tudo não passa de um «conto africano», nunca se saberá ao certo !

Saturday, April 02, 2005

PASSADO

O passado (tudo passa, o que julgamos que permanece é apenas o que passa mais devagar) a meu ver, só faz sentido para o presente. O passado não existe por si próprio. Nós interpretamo-lo como que o reciclamos. Também o reconstruímos. Porque, o que é o passado? É um conjunto de pequenos acontecimentos que não têm lógica por si mesmos. Nós é que lhe reconstruímos a lógica que nos parece significativa. O passado é, a cada vez, reinterpretado em função das necessidades da actualidade.
Porventura, por isso, os meus familiares “passado” tanto tempo sobre as longíquas origens africanas (de Moçambique) e a despeito de terem reconstituído aqui em Portugal as suas vidas (a maior parte deles vivendo felizmente “do ponto de vista economico” muito melhor do que em África) sintam necessidade de voltar ao passado com gestos tão simples como o de darem os nomes das «origens» à realidade vivida no presente (por ex., o meu irmão Tomané denominou a magnífica vivenda que possui em Almansil, no Algarve, de “Cantinho do Chibata” – na verdade aquilo só podia ser um “cantinho” do verdadeiro e grande “Chibata” que ele conheceu e ajudou a construir – e o meu sobrinho Mané que nasceu em Moçambique (Beira) mas veio para Portugal com apenas 4 anos, sentiu, ainda assim, necessidade de regressar ao passado e designar a excelente vivenda que possui em Cascais do diminuitivo de “Chibatinha”).
Eu que não habito em nenhuma vivenda, mas num normal andar em propriedade horizontal da “outrora imperial Lisboa”, cujo reconhecimento de prédios e andares continua a ser feito por desconchabidos números, e que seria tomado por “louco” se ousasse designar o meu apartamento por ex. de “Minicantinho do Chibata” (à míngua de um n.º ... o homem dos CTT nunca me faria chegar o correio ...) só podia “desmaterializar” o meu regresso ao passado e assim construir este blog e designá-lo por “Choachibata”.
A verdade é que de uma maneira ou outra o Chibata (passado) continua presente em todos nós ... !

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