Sunday, April 17, 2005

HISTÓRIA DE CAHORA BASSA ( 8 )

A Missão de Fomento e Povoamento do Zambeze (MFPZ)

Como já foi possível observar, tanto o Zambeze como a sua área de influência eram há muito conhecidos dos portu­gueses, e desde há longos anos se conjecturavam as suas riquezas escondidas, embora, por motivos diversos, entre os quais a nova visão e posicionamento político internacio­nais do Governo Português do pós-guerra, as experiên­cias de desenvolvimento em áreas semelhantes, como foi o caso dos projectos de desenvolvimento da zona do rio Tennesse, nos Estados Unidos da América, só em meados dos anos 50 se começou a olhar para a bacia hidro­gráfica do Zambeze como uma estrutura de desenvolvi­mento económico capaz de se autofinanciar a partir de um "motor de arranque", que após aturadas discussões, avanços e recuos, propostas e contra­propostas, pressões políticas e económicas, etc., viria a ser a barragem de Cahora Bassa.
Com efeito, a tomada de consciência das vastas riquezas por explorar naquele território, aliada à necessidade de inverter a má imagem que Portugal detinha a nível internacional relativamente ao desenvolvimento das suas possessões ultramarinas, levam o Estado Português a incrementar o estudo em várias regiões africanas, nomeadamente na bacia hidrográfica do Zambeze em território moçambicano.
Tratando-se neste caso especifico, de uma extensíssima área a estudar, foi necessário criar uma instituição que, dotada dos competentes recursos, fosse capaz de cumprir o projecto em tempo útil, que se dese­java o mais curto possível - é deste modo que, em 1957, nasce a Missão de Fomento e Povoamento do Zambeze (MFPZ), com a finalidade de "proceder ao reconheci­mento sistemático dos recursos da bacia hidrográfica do rio Zambeze em território de Moçambique, organizar os planos de aproveitamento e desenvolvimento dos mesmos e elaborar os projectos que para tal lhe forem determina­dos", cuja orientação e a elaboração dos estudos que conduzissem ao plano de desenvolvimento da área em questão, em colaboração com aquela entidade pública, ficaram a cargo da Hidrotécnica Portuguesa (HP).
A diversidade de assuntos a tratar, obrigou a constituição de vários grupos especialistas em cada uma das áreas, as Brigadas de Agricultura, de Engenharia Hidráulica, de Geologia e Prospecção Mineira e de Estudos Económico-Socias, tratavam, respectivamente, de seleccionar e caracterizar as áreas de possível aproveitamento agrícola, classificando-as segundo a sua capacidade de uso, de efectuar os reconhecimentos necessários à definição das obras a efectuar para a produção de energia eléctrica, rega, navegação e regulari­zação fluvial, de fazer o reconhecimento e avaliação primária do valor potencial dos recursos do subsolo, de inventariar e analisar as actividades e os recursos humanos, bem como estabelecer, as formas mais aconselháveis, social e economicamente, de mobilizar os recursos. Por outro lado, aos Serviços de Silvicultura e de Veterinária, competiria ao primeiro, indicar as manchas de floresta indígena com valor económico e sua potencialidade para produção de madeiras, as manchas de floresta que neces­sitassem de protecção e as que apresentassem aptidão para o estabelecimento de florestas exóticas, e ao segundo, indicar e classificar as zonas onde pudesse existir inte­resse económico para explorações de gado de carne, de produção de leite e outros, bem como estabelecer os métodos técnica e economicamente aconselhados para a exploração de gado para os diferentes fins.
Em 1958, tal como tinha sido programado, a Hidrotécnica Portuguesa apresentou um «relatório preliminar» que, em três volumes, condensava os estudos efectuados pelos vários grupos de trabalho da MFPZ, relatório esse que estava dividido em três blocos: (1) caracterização geral do espaço em estudo, (2) possibilidades de desenvolvimento, (3) e o programa de trabalhos e respectivos custos.
Embora, com um pequeno atraso sobre o prazo previsto, mas apenas três anos passados, foi dado a conhecer o «esquema geral» que reunia a totalidade dos estudos realizados e apresentava um "esquema de arranque" que, a ser apro­vado, serviria de apoio à estruturação do Plano Geral, que dado à luz em 1965, foi o corolário de quase uma década de investigações levadas a cabo por várias dezenas de técnicos, dos quais mais de um terço com formação universitária, apoiados com os meios necessários, desde viaturas todo-o-terreno a embarcações, aeronaves e equipamento mais especializado.
Contendo o anteprojecto das obras escolhidas, bem como o planeamento dos empreendimentos considerados vitais para o início do que se pensava vir a ser o desenvolvi­mento de uma das mais atrasadas, mas paradoxalmente mais ricas, áreas do então Ultramar Português, o Plano Geral defendia a criação de actividades passíveis de gerar um crescimento sustentado que, "mais cedo ou mais tarde viesse a transformar o panorama económico e social", actividades que eram, grosso modo, a produção de energia - onde o aproveitamento de Cahora Bassa, dado o baixíssimo custo da energia, era primordial - e, ligada àquela, a exploração de minérios e a sua transfor­mação nas proximidades, a que se aliava o desenvolvi­mento agrícola com a construção de complexos sistemas de rega alimentados, tanto pela albufeira a criar a montante de Cahora Bassa, como por um Zambeze regu­larizado a jusante.
Feito o estudo, era, agora, necessário analisar a viabilidade político-económica dos projectos propostos
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