Monday, April 04, 2005

HISTÓRIA DE CAHORA BASSA (1)

A Hidroeléctrica de Cahora Bassa SARL, (HCB), como empresa, nasceu num período conturbado da história dos dois países que dela são accionistas: Portugal e Moçambique. De facto, quando foi criada em meados de 1975, enquanto o primeiro dava os primeiros passos numa democracia ainda mal cimentada, o segundo caminhava a passos largos para uma independência com muitos sobressaltos. O seu objectivo era, e continua a ser, o de gerir uma barragem construída no Zambeze que fornecesse energia abundante, fundamentalmente à África do Sul, através da ESKOM - sociedade sul-africana de produção e distri­buição de electricidade -, mas também a Moçambique. Para se compreender, com alguma clareza, como cresceu este enorme projecto de desenvolvimento teremos que recuar no tempo, reflectindo sobre uma muito sintética caracterização do espaço em questão, com vista a descobrirmos esse fio condutor que liga a história aos homens.

O Zambeze grandioso

No coração de África nasce um dos maiores rios do mundo: o Zambeze. Integrando territórios de países como o Congo (ex-Zaire), Angola, Zâmbia, Namíbia, Botswana, Tanzânia, Malawi, Zimbabwe e Moçambique, a sua bacia hidrográfica espraia-se por uma área de cerca de um milhão e duzentos mil quilómetros quadrados, ou seja, mais de treze vezes a superfície de Portugal continental ou mais de uma vez e meia a de Moçambique. Com uma extensão de aproximadamente 2700 km de comprimento, 830 km dos quais em Moçambique, os afluentes que encontra pelo caminho fazem-no crescer até ao encor­pado rio que podemos encontrar em terras moçambicanas.
Funcionando como eixo desta vasta área, o Zambeze possibilita a navegação desde o Zumbo, na fronteira de Moçambique com o Zimbabwe e a Zâmbia, até ao paredão da barragem de Cahora Bassa, construída no exacto local onde se situavam os famosos rápidos com o mesmo nome e que permitiu, a montante, o aumento do calado das embarcações que por ali queiram navegar. A fundamental diferença entre o antes e o depois da construção da referida barragem, em relação ao troço a jusante de Cahora Bassa que segue por mais de quinhentos quilómetros até à foz, foi a possibilidade de regularização do rio, proporcionando um caudal mais constante, factor altamente favorável às populações que habitam nas suas margens.
Contribuindo para os elevados caudais médios do Zambeze que, em Moçambique, oscilam entre os 900 (na estação seca que, em regra, decorre entre Maio e Outubro) e os 10.000 metros cúbicos por segundo (na estação húmida, normalmente verificada entre Novembro e Março), estão outros grandes rios, afluentes do primeiro. E influenciando directamente a bacia hidrográfica em território moçambicano, encon­tram-se três dos maiores: o Arângua, o Luia e o Chire. Contudo os valores apresentados são, como o próprio nome indica, valores médios. Donde se verifiquem, claro está, situações em que os valores mínimos ou máximos de caudal líquido se afastam dos considerados. Assim, no dia 25 de Março de 1978, quando a barragem tinha menos de três anos de idade, foi medido o pico máximo de dezassete mil e setecentos metros cúbicos por segundo, naquilo que foi considerada uma "cheia milenar".
Apesar dessa contingência inesperada, e de ter sido neces­sário abrir as oito comportas da barragem, bem como o descarregador de superfície, todo o empreendimento se comportou à altura do desejado, tendo esta prova sido considerada um importante teste à resistência e eficiência do projecto ( a fotografia da barragem que consta do blog comprova esse momento descrito).

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