Tuesday, April 05, 2005

HISTÓRIA DE CAHORA BASSA ( 2 )

O povoamento humano do Zambeze
Não tendo certezas sobre as populações que viviam no actual território de Moçambique em épocas mais remotas, a maior parte dos historiadores inclina-se para as classificar como comunidades de caçadores e pescadores, a exemplo do que se verificava noutras áreas contí­guas.
Porém é possível adiantar quanto à época em que se verificaram vastos movimen­tos populacionais que chegam à África Austral por volta do séc. III da era cristã, cujo aspecto mais relevante é o de possuírem uma língua comum («bantu» que significa "plural de homem") e cujas movimentações ficaram vulgarmente conhecidas como «expansão bantu».
Estes «povos bantu» que já dominavam a metalurgia do ferro e as actividades agro-pecuárias, foram-se organizando nas tradicionais famílias alargadas e, estas, em linhagens mais ou menos poderosas, dando origem a sociedades complexas, onde os nobres viviam de tributos dos hierar­quicamente inferiores e a escravatura (ao contrário do que geralmente se pensa embora muito distinta daquela que os europeus promoveram em séculos posteriores, a escravatura era em África pré-existente à chegada daqueles) detinha um papel importante.
Alguns séculos se passaram antes que estas sociedades conhecessem influências exteriores passíveis de as trans­formar profundamente - de facto, só a partir do séc. IX, os árabes-suahilis - vindos do Norte - se estabele­cem na costa moçambicana e promovem as trocas comer­ciais dos ricos produtos do interior, nomeadamente ouro e marfim, pelas mercadorias do comércio do Índico, processo que evoluirá até ao séc. XII, época em que as cidades suahilis atingem o seu máximo esplendor.
Entretanto no interior, a partir do séc IX, entre os rios Zambeze e Limpopo, outra civilização ganha importância gradual devido ao advento do comércio de longa distância «o Grande Zimbabwe» que veio a ocupar não só o território do país seu homónimo, como vastas áreas subjacentes, nomeadamente em Manyikeni, a cerca de cinquenta quilómetros da baía de Vilanculos, em pleno sul do actual território moçambicano. Esta importante sociedade, que parece ter florescido na razão directa da decadência de uma outra que, situada mais a Sul, tinha a capital em Mapungubwe, deixou-nos inúmeros vestígios arqueológicos, em especial "uma acrópole, um palácio real e impressionantes muralhas de quase nove metros de altura que podiam ser habitadas por três mil e quinhentas pessoas" (1) e que só desaparece por volta do séc. XV.
Surge, nesta mesma época, um novo Estado que adoptando o nome dos seus reis, o reino do «Mwene Mutapa» ou "Monomotapa", e que veio a deter um imenso terri­tório que se estendeu pelo vale do Zambeze, até às imediações da cidade de Tete, apenas desaparecendo no início do nosso século - a importância deste reino poderá ser facilmente calculada se pensarmos que a evocação do seu nome, na Europa dos Descobrimentos, era equiva­lente à imagem de riquezas sem fim, em busca das quais diversos aventureiros portugueses de então se dispuseram a subir o Zambeze, procurando descobrir a "galinha dos ovos de ouro".
Por último, deve-se referir a existência de outro impor­tante Estado, o Estado Marave que, situado a norte do Monomotapa, se instalou em parte do território do actual distrito de Tete e no do actual Malawi, constituído por populações vindas do interior chega a ameaçar o poder suahili mas desaparece, enquanto poder unitário, no decurso do séc. XVIII.
É este o cenário que os primeiros portugueses encontram quando se estabelecem na costa oriental africana a partir do final do séc XV e, a pouco e pouco, tomam contacto com o Zambeze.
(1) Na vila do Songo, onde se situa a barragem de Cahora Bassa, existem ainda hoje as ruínas de um "zimbabwe" - diminuto quando comparado com as do "grande zimbabwe" existentes no actual Zimbabwe - mas que ainda assim merecem ser vistas para se compreender o que era um zimbabwe, fortificação situada em ponto elevado cercada de muralhas e dentro das quais se algomeravam as habitações.

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