Monday, June 27, 2005
LUSOFONIA - GUINÉ BISSAU ( 4 )
Na Guiné-Bissau, desde há muito que a lusofonia é um termo usado como base de procura de identidade perante tantos vizinhos francófonos ávidos e gananciosos, utilizada, constantemente, durantes os conflitos internos, umas vezes como forma de socorro, outras como ingerência política e militar nos assuntos internos do país e hipócrita culpabilização dos males próprios, enfim como dialéctica expontânea e popular (onde se falam mais os dialectos locais e pouco se fala português e ainda menos o sabem escrever, mas onde o sentimento lusófono por parte dos povos da Guiné é de tal maneira grande que têm conseguido preferir o espaço da Lusofonia à Francofonia, dizendo não a esta e mantendo-se na CPLP) e como forma de ajudar os guineenses a encontrar uma solução que preserve a coesão nacional e as instituições democráticas do país, em suma, a lusofonia pode constituir o único garante da independência face às tentativas hegemónicas do mundo francófono circundante, de Dacar a Conacri, embora a Guiné seja sem dúvida o fenómeno mais intrigante no seio da Lusofonia.
Thursday, June 23, 2005
LUSOFONIA - CABO VERDE ( 3 )
Em Cabo Verde a lusofonia é uma forma de consensualizar os que acreditam numa variante da “portugalidade europeia” (a das das pertenças comuns das comunidades caboverdianas residentes na grande Lisboa, onde aliás constituem a mais importante comunidade de imigrantes) e os que se auto-excluem no refúgio da “pan-africanidade”, da mesma forma que é utilizada como tentativa de centralizar a lusofonia nas ilhas, dando a Cabo Verde o papel principal de interlocutor da África com a Europa, Brasil (Atlântico Sul) e América, ou seja, o vínculo discursivo que permita potenciar Cabo Verde como detendor de um “poder simbólico” (substitutivo de um inexistente poder efectivo) erigido com base na melhor expressão das sínteses culturais euromundistas (a das comunidades caboverdianas espalhadas pela Europa e Américas).
Thursday, June 16, 2005
LUSOFONIA - BRASIL ( 2 )
No Brasil, é o amplo arco simbólico dessa despretensiosa mas expressiva sessão metaforica, ao mesmo tempo “crioula”, “mestiça”, “branca”, “negra”, “plurirracial”, “pluricontinental” de e da «Lusofonia», mas é também no projecto de geostratégia socio-economico-política da afirmação do Brasil no concerto das grandes potências do século XXI (depois desse indestrutível mito que se deu pelo nome do «passado glorioso de Portugal» segue-se do não menos «glorioso futuro do Brasil») a única chance – pese a insensibilidade para não dizer “alergia lusófona” generalizada de todas as elites brasileiras – da afirmação brasileira na geopolítica multipolar que se desenha, ao ponto de se poder afirmar que “sem Brasil não haverá lusofonia, mas também sem lusofonia não haverá Brasil no Mundo que valha a pena”, ou dito de outro modo «a lusofonia ou será brasileira ou nunca o será, o Brasil ou será lusófono ou nunca será a potência emergente neste mundoglobal», só esperando que neste século XXI, nem o Brasil nem a lusofonia, percam a sua oportunidade histórica de afirmação no Mundo.
Monday, June 13, 2005
LUSOFONIA - PORTUGAL ( 1 )
Para Portugal a “lusofonia” é o fruto da mais “velha globalização do mundo”, a continuação do “mito do Império”, a alternativa em termos de política externa aos pilares transatlântico e europeu, mas também o amor ao desconhecido, a saudade do futuro, a angústia agonizante que se esgrima para esquecer as dores, pecados e os vestígios do “V Imperio de Vieira”, do “modelo de vida de Agostinho da Silva”, do “saudosismo de Pascoaes” ou do “misticismo de Pessoa”, enfim, a da paternalidade e do paternalismo, a do neo-colonialismo (no sentido, dos dois opostos que se confluem no projecto politico que é a lusofonia: o “sentimento” e a “economia”) a procura de uma alternativa ao sistema europeu de relacionamento e de uma especificidade portuguesa (a do relacionamento com a África, o Brasil e o Extremo Oriente) de império ou de pós-império.
Sunday, June 12, 2005
LUSOFONIA
"A minha Pátria é a língua portuguesa"
Fernando Pessoa
" Da minha língua vê-se o mar"
Vergílio Ferreira
“A expressão «lusofonia» não faz sentido: o português já não é pertença dos «lusos», mas domínio próprio de cada um dos povos que o falam”
António Mega Ferreira, Revista “VISÃO” de 3/Março/2005
António Mega Ferreira, Revista “VISÃO” de 3/Março/2005
Partindo destes três pensamentos de dois dos maiores escritores portugueses e de um cronista «contemporâneo», proponho-me fazer uma reflexão sobre a expressão “lusofonia” e desta identidade (nacionalidade ?) lusófona.
Bom aquilo que a gente chama “lusofonia”, é algo vago, muito indefinido, isto é, muitas coisas para muita gente e quase nada para outras, não se podendo reduzir a uma definição etimológica, do “falar português”, mas abrangendo outras realidades que a palavra tende a abarcar como o “lusotropicalismo”(sim esse mesmo o de Gilberto Freire, que continua a ser, ainda hoje, quem melhor fundamentou a “sociedade tropical” constituída pelos portugueses quer no Brasil, quer em África ou no Extremo Oriente), sociedade “afro-luso-brasileira”, “CPLP – Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa”, etc., etc., a verdade é que o conceito de “lusofonia”, podendo não ser o mais feliz e que desagadra a muitos, é o que melhor sintetiza - e como dizia Fernando Pessoa «a síntese é a luxúria do pensamento» - essa realidade que vai para além da “língua de L maiúsculo” e que é muito mais do que palavras, são as “pátrias”, mas também todas as comunidades (sejam as portuguesas espalhadas pelo mundo, as brasileiras no Japão, as do Centro de Língua Portuguesa de Joanesbourg onde não há rivalidades e distâncias entre tugas, brazucas, moçambicanos, angolanos, cabo-verdeanos, são-tomenses, timorenses ou outros «enses», lutando juntos numa sociedade anglo-saxónica onde a lusofonia está longe de ser galão de prestígio, ou ainda as indo-portuguesas do oriente como as de Goa e Malaca) e onde em todas elas, a despeito de em alguns casos serem apenas minúsculos aglomerados de pessoas, ser-se “lusófono” é uma afirmação de identidade baseada na língua, na música, nas cantigas e/ou na gastronomia, que guardam religiosamente, já faz séculos, como um valor precioso a preservar.
A lusofonia, no seu caracter apolítico é uma “ingénua identidade” que apenas se auto-realiza em manifestações de amor, de irracionalidade, de uma ligação entre povos (incompreensiva porque se sentem ligados sem sequer se conhecerem ...) culturas, ideais, que pelos quatro cantos do mundo se apropriam dessa identidade para construir projectos ideais dotados de um sentido de realização, de uma missão inexplicável ou mítica, construída apenas com base na máxima pessoniana da “língua como pátria”, não já só da portuguesa, como da “pátria lusófona”.
Bom aquilo que a gente chama “lusofonia”, é algo vago, muito indefinido, isto é, muitas coisas para muita gente e quase nada para outras, não se podendo reduzir a uma definição etimológica, do “falar português”, mas abrangendo outras realidades que a palavra tende a abarcar como o “lusotropicalismo”(sim esse mesmo o de Gilberto Freire, que continua a ser, ainda hoje, quem melhor fundamentou a “sociedade tropical” constituída pelos portugueses quer no Brasil, quer em África ou no Extremo Oriente), sociedade “afro-luso-brasileira”, “CPLP – Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa”, etc., etc., a verdade é que o conceito de “lusofonia”, podendo não ser o mais feliz e que desagadra a muitos, é o que melhor sintetiza - e como dizia Fernando Pessoa «a síntese é a luxúria do pensamento» - essa realidade que vai para além da “língua de L maiúsculo” e que é muito mais do que palavras, são as “pátrias”, mas também todas as comunidades (sejam as portuguesas espalhadas pelo mundo, as brasileiras no Japão, as do Centro de Língua Portuguesa de Joanesbourg onde não há rivalidades e distâncias entre tugas, brazucas, moçambicanos, angolanos, cabo-verdeanos, são-tomenses, timorenses ou outros «enses», lutando juntos numa sociedade anglo-saxónica onde a lusofonia está longe de ser galão de prestígio, ou ainda as indo-portuguesas do oriente como as de Goa e Malaca) e onde em todas elas, a despeito de em alguns casos serem apenas minúsculos aglomerados de pessoas, ser-se “lusófono” é uma afirmação de identidade baseada na língua, na música, nas cantigas e/ou na gastronomia, que guardam religiosamente, já faz séculos, como um valor precioso a preservar.
A lusofonia, no seu caracter apolítico é uma “ingénua identidade” que apenas se auto-realiza em manifestações de amor, de irracionalidade, de uma ligação entre povos (incompreensiva porque se sentem ligados sem sequer se conhecerem ...) culturas, ideais, que pelos quatro cantos do mundo se apropriam dessa identidade para construir projectos ideais dotados de um sentido de realização, de uma missão inexplicável ou mítica, construída apenas com base na máxima pessoniana da “língua como pátria”, não já só da portuguesa, como da “pátria lusófona”.
Wednesday, June 01, 2005
ALBUFEIRA CAHORA BASSA - Por do Sol ( para terminar a história deste grandioso empreendimento nada melhor do que este magnífico "por de sol" sobre a albufeira da barragem)
HISTÓRIA CAHORA BASSA ( FIM )
Termino a “História de Cahora Bassa”, num momento em que se aproximam momentos de transformação bem positiva (para Moçambique e para Portugal) da situação do empreendimento.
Efectivamente, a recente revisão tarifária (com a passagem de 3,6 cêntimos de rand para 12,52 cêntimos por Kwh de energia transmitida a atingir em 2007, tendo-se alcançado em 2004 já 60% desse valor) resultante da ratificação do novo acordo tarifário com a África do Sul concluído em 2004, permite à HCB gerar os meios financeiros suficientes para saldar a dívida ao Estado português de 1.800 milhões de dólares (nas contas do exercício de 2004, pela primeira vez nos seus 30 anos de existência a empresa registou lucros de 381 milhões de €uros), viabilizando – desde que os governos de Portugal e Moçambique compreeendam nas negociações para a transferência da barragem que há interesses mútuos dos dois países que importa salvaguardar, e principalmente que o governo moçambicano deixe de considerar nessas negociações como parceiro estratégico “preferencial” a África do Sul, até hoje verdadeiramente o único beneficiário do empreendimento – a alienação por Portugal dos 83% do capital que ainda detém na empresa, e dando finalmente azo à “velha” e “legítima” aspiração moçambicana de a Hidroléctrica de Cahora Bassa passar a ser um património sob gestão dos moçambicanos.
Efectivamente, a recente revisão tarifária (com a passagem de 3,6 cêntimos de rand para 12,52 cêntimos por Kwh de energia transmitida a atingir em 2007, tendo-se alcançado em 2004 já 60% desse valor) resultante da ratificação do novo acordo tarifário com a África do Sul concluído em 2004, permite à HCB gerar os meios financeiros suficientes para saldar a dívida ao Estado português de 1.800 milhões de dólares (nas contas do exercício de 2004, pela primeira vez nos seus 30 anos de existência a empresa registou lucros de 381 milhões de €uros), viabilizando – desde que os governos de Portugal e Moçambique compreeendam nas negociações para a transferência da barragem que há interesses mútuos dos dois países que importa salvaguardar, e principalmente que o governo moçambicano deixe de considerar nessas negociações como parceiro estratégico “preferencial” a África do Sul, até hoje verdadeiramente o único beneficiário do empreendimento – a alienação por Portugal dos 83% do capital que ainda detém na empresa, e dando finalmente azo à “velha” e “legítima” aspiração moçambicana de a Hidroléctrica de Cahora Bassa passar a ser um património sob gestão dos moçambicanos.