Sunday, June 12, 2005

LUSOFONIA

"A minha Pátria é a língua portuguesa"
Fernando Pessoa
" Da minha língua vê-se o mar"
Vergílio Ferreira
“A expressão «lusofonia» não faz sentido: o português já não é pertença dos «lusos», mas domínio próprio de cada um dos povos que o falam”
António Mega Ferreira, Revista “VISÃO” de 3/Março/2005

Partindo destes três pensamentos de dois dos maiores escritores portugueses e de um cronista «contemporâneo», proponho-me fazer uma reflexão sobre a expressão “lusofonia” e desta identidade (nacionalidade ?) lusófona.
Bom aquilo que a gente chama “lusofonia”, é algo vago, muito indefinido, isto é, muitas coisas para muita gente e quase nada para outras, não se podendo reduzir a uma definição etimológica, do “falar português”, mas abrangendo outras realidades que a palavra tende a abarcar como o “lusotropicalismo”(sim esse mesmo o de Gilberto Freire, que continua a ser, ainda hoje, quem melhor fundamentou a “sociedade tropical” constituída pelos portugueses quer no Brasil, quer em África ou no Extremo Oriente), sociedade “afro-luso-brasileira”, “CPLP – Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa”, etc., etc., a verdade é que o conceito de “lusofonia”, podendo não ser o mais feliz e que desagadra a muitos, é o que melhor sintetiza - e como dizia Fernando Pessoa «a síntese é a luxúria do pensamento» - essa realidade que vai para além da “língua de L maiúsculo” e que é muito mais do que palavras, são as “pátrias”, mas também todas as comunidades (sejam as portuguesas espalhadas pelo mundo, as brasileiras no Japão, as do Centro de Língua Portuguesa de Joanesbourg onde não há rivalidades e distâncias entre tugas, brazucas, moçambicanos, angolanos, cabo-verdeanos, são-tomenses, timorenses ou outros «enses», lutando juntos numa sociedade anglo-saxónica onde a lusofonia está longe de ser galão de prestígio, ou ainda as indo-portuguesas do oriente como as de Goa e Malaca) e onde em todas elas, a despeito de em alguns casos serem apenas minúsculos aglomerados de pessoas, ser-se “lusófono” é uma afirmação de identidade baseada na língua, na música, nas cantigas e/ou na gastronomia, que guardam religiosamente, já faz séculos, como um valor precioso a preservar.
A lusofonia, no seu caracter apolítico é uma “ingénua identidade” que apenas se auto-realiza em manifestações de amor, de irracionalidade, de uma ligação entre povos (incompreensiva porque se sentem ligados sem sequer se conhecerem ...) culturas, ideais, que pelos quatro cantos do mundo se apropriam dessa identidade para construir projectos ideais dotados de um sentido de realização, de uma missão inexplicável ou mítica, construída apenas com base na máxima pessoniana da “língua como pátria”, não já só da portuguesa, como da “pátria lusófona”.

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