Saturday, November 19, 2005
Embora não muito fotogénico, aí estou eu com o emblema ("leão de prata") dos 25 anos de sócio do SPORTING.
LEÃO DE PRATA
Recebi hoje das mãos do Hilário – grande referência leonina do passado e um dos Magriços de 66 – moçambicano como eu, conforme lhe referi na ocasião, o emblema de 25 anos de sócio do SPORTING, herança recebida do sportinguista ferrenho que era o meu pai, e paixão clubística construída desde tenra idade nos anos 50 em Moçambique, abraçado ao rádio nas tardes de domingo, ouvindo os relatos da então Emissora Nacional em emissão para África (anos mais tarde nos relatos em cadeia do Rádio Clube de Moçambique), vibrando com as fintas do Seminário, as “reviengas” do Geo, os fantásticos “dribles” do Osvaldo Silva, os golos do Figueiredo e Lourenço, o “cantinho do Morais”, protestando contra os "árbitros" - na altura ainda não se tinha generalizado a palavra “sistema” - como se tivesse acabado de ver, a mais de dez mil quilómetros de distância, no próprio Estádio José de Alvalade todos os jogos, com perfeita percepção visual dos lances e jogadas, que me permitiam acaloradas discussões à 2.ª feira com os meus amigos do Benfica.
Só, contudo, ao aportar pela primeira vez em Lisboa em 1968, me fiz sócio do clube – aliás, dois dos meus primeiros passos de então, foi deslocar-me à sede do Passadiço para me inscrever como sócio e no fim de semana seguinte à minha chegada, creio que a uma 3.ª feira, deslocar-me a Alvalade para assistir no sábado a um jogo de reservas com o Almada, e no domingo ao da equipa principal com o Leixões – razão porque teria hoje 37 anos de sócio, não fora a circunstância de que por força das dificuldades inerentes à condição de estudante e do início de vida profissional ter deixado durante muitos anos de pagar quotas.
57 anos de sportinguismo, 37 de sócio virtual, 25 anos de sócio efectivo, duvido que ainda consiga chegar a “leão de ouro”, o que importa é que esta paixão sportinguista não esmorece, antes pelo contrário à medida que a idade avança e assistindo cada vez menos “ao vivo” aos jogos (mantendo embora o lugar no novo Estádio, a verdade é que são já mais as vezes que opto por assistir aos jogos pela televisão) ela é contraditoriamente cada vez mais “sofrida”, fazendo jus ao lema do clube do “Esforço, Dedicação, Devoção e Glória: eis o SPORTING”.
Só, contudo, ao aportar pela primeira vez em Lisboa em 1968, me fiz sócio do clube – aliás, dois dos meus primeiros passos de então, foi deslocar-me à sede do Passadiço para me inscrever como sócio e no fim de semana seguinte à minha chegada, creio que a uma 3.ª feira, deslocar-me a Alvalade para assistir no sábado a um jogo de reservas com o Almada, e no domingo ao da equipa principal com o Leixões – razão porque teria hoje 37 anos de sócio, não fora a circunstância de que por força das dificuldades inerentes à condição de estudante e do início de vida profissional ter deixado durante muitos anos de pagar quotas.
57 anos de sportinguismo, 37 de sócio virtual, 25 anos de sócio efectivo, duvido que ainda consiga chegar a “leão de ouro”, o que importa é que esta paixão sportinguista não esmorece, antes pelo contrário à medida que a idade avança e assistindo cada vez menos “ao vivo” aos jogos (mantendo embora o lugar no novo Estádio, a verdade é que são já mais as vezes que opto por assistir aos jogos pela televisão) ela é contraditoriamente cada vez mais “sofrida”, fazendo jus ao lema do clube do “Esforço, Dedicação, Devoção e Glória: eis o SPORTING”.
Wednesday, November 02, 2005
Eu, Quim Castanheira (amigo nosso que se encontra em Maputo) e Mané junto à piscina do Polana com a fabulosa vista sobre a baía de Maputo (ou do Espírito Santo, como lhe chamavam os portugueses)
FIM DA VIAGEM
15.º dia – 2 de Novembro - MAPUTO / LISBOA
Após estes intensas duas semanas é hora do regresso a Lisboa e também de balanço destas férias.
De volta a Portugal, no avião, dei comigo a pensar o quanto vivemos intensamente estes últimos dias e posso dizer que voltamos a conhecer, nas terras por onde andámos em Moçambique, a verdadeira África. Uma verdadeira revisitação da África que muito nos deu, através da sua grandeza, da imensa beleza das suas florestas, das praias de areia-oiro do seu litoral, dos seus dias intensos de sol, dos amigos africanos que lá fizemos e que agora alguns deles voltamos a reencontar e também da criação de novas amizades. A imprensão é de que passadas décadas do corte do cordão umbilical de Portugal e da sua antiga colónia, os dois lados da barricada já remoeram as dores anteriores ao parto e estão reescrevendo a história do seu reencontro, em que os moçambicanos (“os povos moçambicanos”) e os portugueses são cada vez mais como irmãos, que podem viver agora em casas separadas mas são da mesma família, filhos de um pai comum, que se podem chatear às vezes como irmãos rivais, mas partilham gestos idênticos, as mesmas manias (como a da “telemovelmania”), de ter o mais possível fazendo o menos possível.
Por tudo isto o sentimento, ao tocarmos no aeroporto de Lisboa, era mesmo o da grande vontade de regressar de imediato!
Após estes intensas duas semanas é hora do regresso a Lisboa e também de balanço destas férias.
De volta a Portugal, no avião, dei comigo a pensar o quanto vivemos intensamente estes últimos dias e posso dizer que voltamos a conhecer, nas terras por onde andámos em Moçambique, a verdadeira África. Uma verdadeira revisitação da África que muito nos deu, através da sua grandeza, da imensa beleza das suas florestas, das praias de areia-oiro do seu litoral, dos seus dias intensos de sol, dos amigos africanos que lá fizemos e que agora alguns deles voltamos a reencontar e também da criação de novas amizades. A imprensão é de que passadas décadas do corte do cordão umbilical de Portugal e da sua antiga colónia, os dois lados da barricada já remoeram as dores anteriores ao parto e estão reescrevendo a história do seu reencontro, em que os moçambicanos (“os povos moçambicanos”) e os portugueses são cada vez mais como irmãos, que podem viver agora em casas separadas mas são da mesma família, filhos de um pai comum, que se podem chatear às vezes como irmãos rivais, mas partilham gestos idênticos, as mesmas manias (como a da “telemovelmania”), de ter o mais possível fazendo o menos possível.
Por tudo isto o sentimento, ao tocarmos no aeroporto de Lisboa, era mesmo o da grande vontade de regressar de imediato!
Tuesday, November 01, 2005
REGRESSO A MOÇAMBIQUE
13.º e 14.º dias - 31 de Outubro e 1 de Novembro - MAPUTO
Os últimos dois dias da viagem (até porque o Pedro tinha de ir trabalhar, ficando nós com o dia todo por nossa conta) foram ocupados a percorrer demoradamente a cidade de Maputo, revisitando os lugares de outrora, muitas vezes os mesmos apenas com nomes diferentes, e foi assim que visitamos a Casa de Ferro trazida da exposição universal de Paris (hoje o Centro Cultural Franco-Moçambicano), a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição (transformada em Museu Militar), a célebre Rua Araújo, o Bazar da Baixa (Mercado Central, construído em 1901, com o seu burburinho habitual, repleto de bancadas a vender camarão, peixe, castanha de caju, e vegetais), a Catedral e o Jardim Tuduru (antigo Vasco da Gama), a Mesquita da Baixa, o Museu da Moeda (antiga Casa Amarela e sede do primeiro governo colonial), a espectacular Estação dos Caminhos de Ferro (desenhada em 1910 por Gustave Eiffel, com as suas estruturas originais de ferro forjado e as suas colunas de mármore, e no interior as duas locomotivas originais a vapor que datam do século XIX) o Museu de História Natural (antigo Museu Álvaro de Castro, onde se encontram expostas embalsmadas várias espécies dos animais existentes em Moçambique e uma colecção única no mundo de fetos de elefantes mostrando a sua evolução em cada mês de gestação) almoçamos no celeberrimo “Piri-Piri” e no renovado Miramar (logo no início da Marginal), tomamos uma bebida ao fim da tarde no mítico Polana, adquirimos nos mercados informais de rua alguns batiques e peças de artesanato local, enfim calcorreamos a pé ou de carro toda a cidade.
Descobrimos que se a antiga Lourenço Marques, jóia da coroa imperial, pérola do Índico, bela, descontraída e sofisticada, geométrica, recortada por avenidas largas e arranha-céus, bordadas de acácias e jacarandás, palco de um quotidiano descontraído, já não existe, a sua sucessora Maputo que, com a independência e a guerra se tornou numa sombra do passado, encontra-se num iminente despertar - impressiona o ambiente de simpatia e sociabilidade dos seus cidadãos que não denotam, principalmente dos mais humildes, qualquer animosidade para com os portugueses nem vontade efectiva de renegar o passado colonialista, estando as opiniões críticas em relação ao regime colonialista circunscritas a círculos muito restritos da intelectualidade moçambicana muito próxima do poder frelimista - e cada vez mais acolhedora, apaixonante e cosmopolita.
Os últimos dois dias da viagem (até porque o Pedro tinha de ir trabalhar, ficando nós com o dia todo por nossa conta) foram ocupados a percorrer demoradamente a cidade de Maputo, revisitando os lugares de outrora, muitas vezes os mesmos apenas com nomes diferentes, e foi assim que visitamos a Casa de Ferro trazida da exposição universal de Paris (hoje o Centro Cultural Franco-Moçambicano), a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição (transformada em Museu Militar), a célebre Rua Araújo, o Bazar da Baixa (Mercado Central, construído em 1901, com o seu burburinho habitual, repleto de bancadas a vender camarão, peixe, castanha de caju, e vegetais), a Catedral e o Jardim Tuduru (antigo Vasco da Gama), a Mesquita da Baixa, o Museu da Moeda (antiga Casa Amarela e sede do primeiro governo colonial), a espectacular Estação dos Caminhos de Ferro (desenhada em 1910 por Gustave Eiffel, com as suas estruturas originais de ferro forjado e as suas colunas de mármore, e no interior as duas locomotivas originais a vapor que datam do século XIX) o Museu de História Natural (antigo Museu Álvaro de Castro, onde se encontram expostas embalsmadas várias espécies dos animais existentes em Moçambique e uma colecção única no mundo de fetos de elefantes mostrando a sua evolução em cada mês de gestação) almoçamos no celeberrimo “Piri-Piri” e no renovado Miramar (logo no início da Marginal), tomamos uma bebida ao fim da tarde no mítico Polana, adquirimos nos mercados informais de rua alguns batiques e peças de artesanato local, enfim calcorreamos a pé ou de carro toda a cidade.
Descobrimos que se a antiga Lourenço Marques, jóia da coroa imperial, pérola do Índico, bela, descontraída e sofisticada, geométrica, recortada por avenidas largas e arranha-céus, bordadas de acácias e jacarandás, palco de um quotidiano descontraído, já não existe, a sua sucessora Maputo que, com a independência e a guerra se tornou numa sombra do passado, encontra-se num iminente despertar - impressiona o ambiente de simpatia e sociabilidade dos seus cidadãos que não denotam, principalmente dos mais humildes, qualquer animosidade para com os portugueses nem vontade efectiva de renegar o passado colonialista, estando as opiniões críticas em relação ao regime colonialista circunscritas a círculos muito restritos da intelectualidade moçambicana muito próxima do poder frelimista - e cada vez mais acolhedora, apaixonante e cosmopolita.