Tuesday, October 25, 2005

REGRESSO A MOÇABIQUE - IDA À FARME (CHIBATA)

7.º dia - 25 de Outubro - Ida à "farme" do CHIBATA

Acordamos cedo e depois de tomarmos o peqeno-almoço deixamos para trás o Chimoio (ex-Vila Pery) deitamo-nos à estrada no jipe, tomando a EN 6, estrada internacional em direcção ao Zimbabwe, para nos dirigirmos à farme do Chibata.
Depois de ultrapassar a ponte sobre o rio Vanduzi, largamos o alcatrão, e aventuramo-nos, como se nunca tivessemos esquecido o caminho, agora por uma autêntica picada africana e à medida que nos aproximamos não consigo perceber se aqueles fios de água, que me descem o corpo, me são sugados pelo calor húmido ou pela tela de medo que nos abraça sobre o que vamos encontrar.
A primeira imagem que nos deparamos mesmo ao chegar à “farme” é de que todas arvóres (cafeeiros, papaeiras, mangueiras, laranjais, pessegueiros, etc., etc. ) que circundavam a casa - até mesmo a frondosa amoreira defronte desta - foram substituídas pelo capim sobre a terra que ninguém agora trabalha. Apenas uma cerca e instalações muito rudimentares com alguns cavalos, que um moçambicano nos diz, estarem a ser criados por um zimbabweano branco, fugido das loucuras de Mugabe, para corridas na África do Sul.
Ao estacionar e sair do jipe, somos recebidos e acompanhados por dezenas de crianças descalças e quase rotas saídas de não sei onde, espantadas com a nossa presença, iniciando a nossa viagem pelo passado, desde logo doendo ao ver a “grande casa dos nossos pais” esventrada de portas, janelas, tecto, enfim, de tudo menos as paredes que resistiram a esta destruição ou o esqueleto de um tractor, que o meu irmão reconhece ser uma parte do Massey Ferguson acabado de adquirir pouco tempo antes de se verem forçados há trinta anos atrás a abandoná-la, a tarimba e os diversos armazéns, tudo em elevado estado de degradação e abandono, que nos deixa uma sensão de arrepio nas costas e um silêncio ensurdecedor entre nós.
Uns Kms. adiante, e o mesmo espectáculo dantesco de destruição na nova vivenda construída pelo meu irmão, aquando do seu casamento, e onde nasceram os filhos.
O meu irmão e sobrinho entraram pelo interior das casas, para ver e filmar, mas eu não consigo, sentando-me debaixo das poucas árvores existentes, e deixando-me percorrer por sentimentos e perguntas politicamente incorrectas. Porquê o desperdício, o desbaratar, a destruição de tudo que justificou o arrastar para este outro sofrimento e miséria em que todas estas populações do campo se encontram ?
Ainda mais à frente, deparamos com uma exploração de “papirica”, propriedade de um moçambicano, aproveitando ainda a água da barragem construída pelo nosso pai, e é aqui que em conversa com um trabalhador desta exploração conseguimos saber que se encontram ainda vivos alguns trabalhadores moçambicanos de há 30 anos atrás e que o encarregamos de os procurar dizendo que os antigos patrões os querem ver e marcando um encontro para a 5.ª feira seguinte.
Iniciamos o caminho de volta, sem deixar de dar uma saltada à farme do nosso tio José, “o pioneiro” da ida da família para Moçambique e da “carta de chamada” do meu pai, que agora se encontra transformada na circunscrição administrativa do “Xigodole”(a alcunha dada pelos moçambicanos ao meu tio José) com escola, um pequeno hospital, até o “Grupo Desportivo do Xigodole” e, portanto, em menor estado de degradação. Mais uma conversa com os moçambicanos aí presentes, a explicação de quem eramos, a notícia de que pouco tempo antes aí haviam estado os nossos primos Lutz e Kurruka vindos da Alemanha para uma viagem certamente com o mesmo propósito do nosso e, o retomar da rota em direcção a Manica.
Manica é o segundo centro populacional da província, muito perto da fronteira com o Zimbabwe, onde há mais de trinta anos passavamos em família os domingos na magnífica piscina aí construída. É aí que almoçamos no restaurante (em termos de instalações quase na mesma) agora dirigido por um velho casal português que se encontrava há mais de 40 anos no Zimbabwe e ex-Rhodesia, e se viu forçado a sair daquele país, e não quererendo sair de África, tentam agora aos 60 anos o início de uma nova vida em Moçambique. Depois do almoço, filmar e fotografar a piscina (que não funciona por falta de água) e as montanhas circundantes da serra Vumba, uma breve visita à cidade que se mantem como a conhecemos, e o regresso ao Chimoio. Uns Kms mais à frente um desvio em direcção à Casa Miska, um complexo turístico erguido por um casal de zimbabweanos brancos junto à albufeira da barragem da Chicamba e depois um outro para o Garuso, para vermos e fotografarmos a Pousada (outro dos locais de repouso aos fins de semana) aí construída pelo Sr. Soeiro, a fim de as mostrarmos ao filho e nosso amigo Mário Soeiro, curiosamente estabelecido na estalagem da barragem do Arade (Silves). A pousada encontra-se de momento inoperacional estando a ser reconstruída por um empresário de origem indiana cujo familiar nos fez questão de mostrar, em todo o pormenor, a recuperação que está a ser feita, sinal de que nem tudo é destruição por estes lados.
Aproximando-se o cair da noite, e sabendo que o pôr do sol africano cai muito rapidamente, fizemo-nos à estrada em direcção ao Chimoio, dirigimo-nos ao “Excecutive Manica Hotel” (o nome é pomposo, embora a realidade seja bem diferente) tomar um banho, um jantar ligeiro num restaurante da ex-Feira, e descansarmos das tensões de um dia repleto de recordações e emoções, tanto mais que no dia seguinte logo pela manhã, íamos para a Beira em mais uma romagem de saudade.

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