Sunday, October 09, 2005

A COMPANHIA DE MOÇAMBIQUE E A CRIAÇÃO DE VILA PERY

Como já referi neste blog (3/Fev/2005) sobre as origens de Vila Pery, elas remontam ao período de governação da Companhia de Moçambique - concessão dada pelo Governo português, por um período de 50 anos (1892-1942) do governo de todo o território de Manica e Sofala, concessão que só é resgatada em 1942, pelo que só a partir desta data o território passa a ser administrado directamente pela Administração colonial portuguesa até à independência em 1975 - cuja razão principal da sua actividade é a exploração e desenvolvimento agrícola de um extenso território, nomeadamente do seu rico planalto sediado na actual província de Manica (antigo distrito do Chimoio).
A povoação de Mandigos (num primeiro período, Mandigos (Vila Pery) perde em importância para Manica, Nova Macequece, presumivelmente não muito longe de Massequesse, a ancestral localidade já referenciada na história pré-colonial de Moçambique) foi criada pela Ordem da Companhia de Moçambique n.º 25, de 30/10/1895, e por desejo manifestado pela população, especialmente pelos agricultores de Chimoio" e pela Ordem n.º 3388, de 15/7/1916, foi o topónimo mudado para VILA PERY, homenageando João Pery de Lind, governador do Território.
Por curiosidade, chamo a atenção para o anúncio dessa época (por deferência do “companhiademocambique.blogspot.com”, um blog de referência sobre o período colonial em Moçambique) da Companhia de Moçambique, com sede no Largo da Biblioteca, 10, em Lisboa (onde hoje funciona a sede do Entreposto), e comités (delegações) em Londres (na Queen Street Place) e Paris (17, Boulevard Hausman) «pedindo “colonos” para uma das regiões mais férteis para a cultura do milho e outros cereais, tabaco (sim, já na altura se cultivava na região, o tabaco que pelos vistos os farmeiros brancos zimbabweanos estão de novo a produzir), acúcar, algodão, sizal, frutas», fazendo ainda referência à capital do território, «Beira, porto natural de trânsito para a Rhodesia, modeno, rapidez nas cargas e descargas, e com direitos de porto (entenda-se, alfandegários) muito moderados», e por último a indicação de «território ideal para excursões cinegéticas, com caça de variadíssima espécies, o paraíso dos caçadores», no fundo o anúncio daquilo que viria a ser o futuro parque nacional da Gorongosa.
Finalmente, para se ter uma ideia do desenvolvimento de Vila Pery no início da década de 90 do séc. XX, o "GUIDE TO THE MOZAMBIQUE CO. "TERRITORY", datado de 1902, relatava que «Mandigos (futura Vila Pery) era a sede da circunscrição de Chimoio e tinha bom clima, facto bem conhecido por todos que por lá passaram; comércio: um hotel, cantinas e algumas lojas de baneanes (indianos), com uma população de 32 europeus, dos quais 10 portugueses e 16 ingleses (o que é sintomático da predominância britânica na zona), 25 asiáticos e 6364 negros», revelador da sua ainda reduzida importância na região.
Contudo, em 1921, no termo do mandato de João Pery de Lind como governador do território administrado pela Companhia de Moçambique, a importância da Vila é bem maior, sendo já o mais importante centro populacional e comercial do território de Manica e Sofala, logo a seguir à cidade da Beira – como simples exemplo, mas nem por isso menos atestador do progresso económico registado, registam-se alguns dados estatísticos referentes aos correios: em 1906 a estação postal de Mandigos vendeu 2659 selos de várias taxas; em 1948, a estação de Vila Pery expediu 67261 peças de correspondência ordinária e recebeu 67463, tendo recebido e expedido ainda 25201 correspondências registadas, ordinárias e por via aérea, no mesmo ano.”

Ou seja, há notícias de agricultores portugueses na actual zona de Chimoio desde pelo menos 1902, há mais de 100 anos portanto (e como se vê a predominância britânica na zona era nessa altura significativa embora se tenha diluído muito e quase desaparecido quando o território foi resgatado pela administração colonial portuguesa) pelo que não sei a qualificação a dar a afirmação da jornalista da VISÃO «como é que os agricultores portugueses não descobriram as potencialidades agrícolas do Chimoio?», como que dando a entender que estas terras foram agora descobertas “virgens” pelos farmeiros brancos provenientes do Zimbabwe.
Mentira, mistificação, deturpação da história, compra da notícia pelo governador Soares Nhaca (intitulado pela jornalista como o “defensor dos patrões” – adiante no blog, também farei a desmistificação deste como de muitos outros altos dignatários frelimistas na questão da “terra” em Moçambique) escolham à vontade? Agora que a realidade histórica desmente a visão de Ana Tomás Ribeiro isso parece evidente.


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