Sunday, May 15, 2005

HISTÓRIA CAHORA BASSA ( 11 )

A CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM
O ano de 1970 é o da continuação dos trabalhos preparatórios de infra-estruturas, como os "de gabinete e de ensaios laboratoriais respeitantes à definição dos pormenores técnicos do empreendimento", de entre os mais importantes se destacam o desvio provisório do rio, na margem direita, na qual se concluiu metade da escavação da abóbada e da soleira, e onde foram betonados 7 mil metros cúbicos de um total de 12 mil, na testa de montante, e escavados 70 milímetros cúbicos na boca de jusante, de um total de 100 mil.
Na Central foram retirados 60 milímetros cúbicos de rocha, correspondentes a uma extensão de 195 de abóbada, e 15 mil no túnel de acesso, tendo ainda sido reconhecido o traçado da linha de transporte de energia para a África do Sul, iniciada a construção da estrada de Moatize para Tete, das instalações pré-fabricadas do bairro da fiscalização e das respectivas infra-estruturas.
No ano seguinte (1971) o desvio provisório do rio já se fazia por "duas galerias, cada uma com a secção de 220 metros quadrados, e a extensão de 440 metros a da margem direita e de 540 a da margem esquerda, compreendendo duas ense­cadeiras, com a altura de 45 metros a de montante e 35 metros a de jusante".
Entretanto, no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) de Lisboa, procediam-se aos estudos experimentais do muro da barragem, dos descarregadores de cheias, dos circuitos hidráulicos, das cavernas da central sul e das chaminés de equilíbrio, concluíndo-se, entretanto, os desenhos de execução de construção civil referentes a grande parte da obra e dado início ao fabrico em Portugal (SOREFAME) Alemanha (SIEMMENS) e França (CGE ALSTHOM) do equipamento eléctrico, mecânico e hidro-mecânico do empreendimento,
Por fim, deve-se ainda referir a conclusão dos trabalhos na estrada de Moatize - estação terminal de caminho-de-ferro, onde o cimento proveniente da fábrica da Nova Maceira (Dondo/Beira) seria transportado em "vagons ferroviários" e transbordado para adequados "camions rodoviários" construídos especialmente para o efeito e cujos exemplares se podem ainda ver ainda hoje como "peças de museu" na degradada e inoperacional estação ferroviária de Moatize - que passando pela cidade de Tete, e numa extensão de cerca de cento e sessenta quilómetros, o fariam transportar até à localidade da construção da barragem (Songo/Cahora Bassa), além da continuação das terraplanagens para a implan­tação das instalações do empreendimento.
Em 1972, prosseguiram "em bom ritmo, não só as acti­vidades no estaleiro mas também o fabrico dos equipa­mentos que, iniciado em 1971, entrou em maior actividade durante o ano de 1972”, mantendo os técnicos o optimismo quanto no cumprimento dos prazos de conclusão da generalidade das obras previstas e mesmo, em alguns casos, o adiantamento dos prazos de muitas outras.
"De acordo com a programação, prosseguiram em ritmo mais intenso, durante o ano de 1973, as obras de engen­haria civil do empreendimento, o fabrico e a montagem dos equipamentos", numa luta contra o tempo - em resposta à "desesperada tentativa" da FRELIMO de impedir a construção de Cahora Bassa, em cujo seio o entendimento então predominante era o de que a construção da barragem significaria a "derrota" do movimento independetista, visão entretanto ultrapassada pela Revolução do 25 de Abril de 1974, e que não podendo por esse facto ser hoje comprovada, se admitia que o esforço exigido à FRELIMO pela abertura de uma nova frente em Tete (a maior parte dos guerilheiros que abriram a frente "anti-Cahora Bassa" eram os que faziam a guerilha no norte de Moçambique a partir das bases sedidas na Tanzânia e que foram desviados e infiltrados através da Zâmbia) levaria ao enfraquecimento da "frente Norte" e ao ao paralisar da guerilha na única zona crítica para o exército português em Moçambique) - tendo, nesse mesmo ano de 1973, sido concluídos grande parte dos trabalhos previstos, nomeadamente os relativos aos estudos experi­mentais, ao fabrico e montagem dos equipamentos, as obras de construção civil - na barragem e no centro urbano do Songo -, tendo a obra orçado, até 31 de Dezembro de 1973, em mais de dois milhões e seiscentos mil contos (valores da época).
Para se poder ter uma ideia do enorme esforço de trabalho empregue na obra e da dimensão e grandiosidade da obra, os principais meios materiais de acção afectos ao GPZ (que era, como se sabe, apenas o órgão de fiscalização do consórcio construtor (ZAMCO) da barragem) eram no final do referido ano, compostos por (6) seis aviões, (7) sete helicópteros, (230) duzentos e trinta e duas viaturas ligeiras, (5) cinco viaturas pesadas de passageiros, (52) cinquenta e duas viaturas pesadas de carga, (31) trinta e um tractores de rodas, (9) nove tractores de lagartas, (17) dezassete embarcações, e muito outro e diverso material,
A partir de 1973, e apesar da natural destabili­zação que os acontecimentos ocorridos em Abril de 1974 em Portugal provocaram nos trabalhos, a obra continuou a desenvolver-se a um ritmo muito aceitável, enquanto os novos responsáveis políticos de Moçambique (FRELIMO) antes contra a construção de Cahora Bassa se mostravam agora empenhados em viabilizar algo que já sabiam poder vir a ser fundamental no crescimento do novo país que estava a nascer.
Prova disso, são os esforços do Governo de Transição de Moçambique (formado conjuntamente pelo Governo Português e pela FRELIMO) quanto ao desencadear de algumas medidas , nomeadamente quanto à deslocação das últimas populações que viviam nas áreas hoje submersas, bem como da operação denominada de "Arca de Noé"', que pretendia salvar os animais que se encontrassem isolados nas "ilhas" que se iam formando no decorrer do enchimento da albu­feira que, após o fecho das comportas do desvio provisório da margem direita e da obturação prévia com rolhões de betão da galeria de desvio da margem esquerda, se iniciou no dia 5 de Dezembro de 1974.
Para o futuro ficava a construção de um dos maiores (ainda hoje) projectos electroprodutores do mundo, que consistia no represamento de aproximadamente sessenta e três milhões de metros cúbicos de águas do Zambeze, numa albufeira - a segunda maior de África - que mede cerca de duzen­tos e setenta quilómetros de comprimento, para uma largura máxima de trinta e dois, correspondentes a uma área superior a dois mil e quinhentos quilómetros quadrados, fechados por uma parede de betão - a barragem propriamente dita - de cento e setenta e um metros de altura, trezentos e três de largura no topo, para uma espes­sura máxima de vinte e um metros e mínima de cinco.
Durante a sua construção, que durou apenas cerca de (5) cinco anos, utilizaram-se mais de quatrocentos e cinquenta mil metros cúbicos de betão, ou seja, cerca de nove milhões de "sacos de cimento", foram perfuradas e retiradas várias centenas de milhares de metros cúbicos de rocha, realizadas ou melhoradas algumas centenas de quilómetros de estradas, construída uma ponte de mais de setecentos metros de comprimento em Tete, bem como três grandes pistas de aterragem, deslocadas cerca de vinte e quatro mil pessoas que viviam na área que é hoje ocupada pela albufeira, entre muitos mais números impressionantes.
A quase totalidade de energia produzida iria seguir, como estava previsto para a subestação de Apollo, na África do Sul, através de duas linhas de transporte em corrente contínua monopolares (HVDC) com cerca de mil e quatrocentos quilómetros de extensão - a primeira grande experiência mundial de transmisão de energia eléctrica em corrente contínua numa tão longa extensão - novecentos dos quais em terri­tório moçambicano, suportadas por cerca de seis mil e quatrocentas torres de quase quarenta metros de altura.

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