Thursday, March 03, 2005

MOÇAMBIQUE : QUE FUTURO (3)

RENAMO
Como afirmei no MOÇAMBIQUE : QUE FUTURO (1) o surgimento da RENAMO e a guerra civil, têm a ver precisamente com a incapacidade por parte dos governos da FRELIMO de constituir um verdadeiro Estado em Moçambique – embora o processo da sua constituição coincida com o momento em que o regime do “apartheid” na África do Sul e o regime da Rodésia estão a tentar sobreviver a todo o custo, pelo que a origem da RENAMO também está ligada a negociações com esses regimes no sentido de criar um pólo de resistência anti-comunista em Moçambique, a verdade é que uma década mais tarde, já muito depois da independência do Zimbabwe, a RENAMO está activa em 80% do território, exactamente porque surge dessa população que estava fora do Estado, em que saindo-se das cidades e andando-se 40/50 quilómetros, se constata que a mão do Estado já não chega lá, nem para a educação, nem para a saúde, nem para a justiça.
Do meu ponto de vista, o surgimento da RENAMO e a guerra civil, têm a ver com o facto da incapacidade da FRELIMO em constituir um verdadeiro Estado em Moçambique alargado à populações marginalizadas do centro-norte do país.
Contudo, e muito embora nas eleições de 1994 a votação da RENAMO tenha sido de 40% (e só não foi superior porque as populações urbanas do norte votaram FRELIMO), e em 1999 obteve 38,81%, enquanto Dlakama recebia 47,7% e Chissano 52%, estando, portanto, a falarmos de diferenças mínimas de votos (em 1999 a diferença entre os dois partidos foi de 224.678 votos, mas a Comissão Eleitoral considerou nulos 378 mil votos) a verdade é que a RENAMO não conseguiu, com o tempo, produzir um discurso de desenvolvimento e de modernidade. Porventura, será necessário não esquecer que, no início, eram grupos de população armada contra o Estado com muita pouca profundidade sócio-económica: qualquer pessoa com a 4.ª classe era um quadro superior, e eventualmente a génese do problema terá sido mesmo esse, o de que a RENAMO não surge de um movimento que corresponda a uma elite estatal. Escapa-lhes essa dimensão: confrontados com a necessidade de dialogar com as pessoas que hoje determinam o poder em Moçambique – os dadores internacionais, que é quem realmente suporta o Estado actual – não tem capacidade de negociação, porque não tem uma elite intelectual, política, que lhes permita fazer esse diálogo.
Por outro lado, a história de África tem demonstrado como é difícil através de eleições democráticas substituir no poder os partidos que estiveram na génese das independências, pelo que o futuro da RENAMO estará ligado ao aparecimento de um novo líder.
Afonso Dhlakama não resistirá à mais recente derrota eleitoral de 2004, onde independentemente do nível extremamente elevado da abstenção e da existência de fraudes reconhecida desta vez pelos próprios observadores intenacionais, a verdade é que sofreu uma pesada derrota – nas presidenciais Guebuza obteve 63,74% contra 31,74 deDhlakama, pior do que contra Chissano em 1999, enquanto nas legislativas a FRELIMO obtinha 62,04% contra 29, 73% da RENAMO, com perdas de votação inclusivé nos seus bastiões tradicionais da Zambézia, Nampula, Manica, com a única excepção de Sofala – pelo que não será ele o líder da RENAMO capaz de criar a tal elite e de dialogar e dar confiança à comunidade internacional e de se tornar como alternativa ao actual poder da FRELIMO
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