Wednesday, March 02, 2005
MOÇAMBIQUE : QUE FUTURO ( 2 )
FRELIMO
A independência dá-se em 1975 e, em 1977, a FRELIMO faz uma viragem à esquerda – já estavam na órbita soviética, mas fazem uma guinada que os aproxima do maoísmo, muito ligada à figura do actual Presidente Armando Guebuza: é ele que organiza aquela campanha de deportação de pessoas para o Niassa, em que todos os elementos considerados “nocivos” ou menos produtivos dos meios urbanos (de Maputo, mas não só) foram metidos em aviões e transportados em massa para os célebres “campos de reeducação” situados nessa província do norte do país, com a ideia de a transformar numa espécie de Sibéria moçambicana, e cujo resultado foi terrível: ao nível humano foi de uma brutalidade inacreditável e, a nível social, foi muito destrutivo com a desagregação de muitas famílias, o Estado tornou-se extremamente repressivo (é dessa altura a introdução da “lei da chibatada” para punição de crimes comuns) levando a um crescente sentimento de frustação das populações do interior e do norte. No domínio económico, a estatização e a gestão planificada da economia (que levou à saída massiva de empresários, gestores, quadros e trabalhadores especializados, saída que afectou o funcionamento normal da economia e das empresas e no caso particular de Moçambique, agravado pela ausência de quadros moçambicanos, substituindo-os por expatriados muito mais gravoso do ponto de vista económico-financeiro, como por ex. no caso dos CFM que substituiu os 1.500 portugueses por 300 expatriados), fez a economia cair a pique, em que as exportações, receitas de transporte e remessas de emigrantes caíram de 778 milhões de contos em 1973 para pouco mais de 96 milhões de contos em 1986, transformando o país num dos mais pobres do Mundo, e quase exclusivamente dependente da comunidade internacional.
Após o Acordo de Paz de Roma (embora antes tivessem sido já ensaiadas várias tentativas de liberalização) por pressão do Ocidente, incluindo os países nórdicos, foi adoptado o PRE em conformidade com o BM e o FMI de liberalização da economia, cujo impacto embora traduzido em taxas de crescimento na ordem dos dois dígitos, está longe de ter tirado a generalidade da população do país dos níveis de pobreza que são conhecidos.
O que não foi possível inverter ainda é o ciclo político do poder da FRELIMO – efectivamente, é o promotor da campanha dos campos de reeducação do Niassa, Armando Guebuza, que entretanto se transformou num dos homens mais ricos de Moçambique – a este propósito o jornalista Marecelino Mosse elaborou um estudo muito pormenorizado sobre as empresas detidas pelo presidente e o modo de acumulação da sua imensa riqueza – que acaba de ser eleito presidente de Moçambique, o que parece indiciar que a natureza do regime liderado pela FRELIMO (insisto na questão da “não construção do Estado nacional” e da manutenção do predomínio no poder dos povos do sul sobre os do centro/norte) pouco se alterará.
A independência dá-se em 1975 e, em 1977, a FRELIMO faz uma viragem à esquerda – já estavam na órbita soviética, mas fazem uma guinada que os aproxima do maoísmo, muito ligada à figura do actual Presidente Armando Guebuza: é ele que organiza aquela campanha de deportação de pessoas para o Niassa, em que todos os elementos considerados “nocivos” ou menos produtivos dos meios urbanos (de Maputo, mas não só) foram metidos em aviões e transportados em massa para os célebres “campos de reeducação” situados nessa província do norte do país, com a ideia de a transformar numa espécie de Sibéria moçambicana, e cujo resultado foi terrível: ao nível humano foi de uma brutalidade inacreditável e, a nível social, foi muito destrutivo com a desagregação de muitas famílias, o Estado tornou-se extremamente repressivo (é dessa altura a introdução da “lei da chibatada” para punição de crimes comuns) levando a um crescente sentimento de frustação das populações do interior e do norte. No domínio económico, a estatização e a gestão planificada da economia (que levou à saída massiva de empresários, gestores, quadros e trabalhadores especializados, saída que afectou o funcionamento normal da economia e das empresas e no caso particular de Moçambique, agravado pela ausência de quadros moçambicanos, substituindo-os por expatriados muito mais gravoso do ponto de vista económico-financeiro, como por ex. no caso dos CFM que substituiu os 1.500 portugueses por 300 expatriados), fez a economia cair a pique, em que as exportações, receitas de transporte e remessas de emigrantes caíram de 778 milhões de contos em 1973 para pouco mais de 96 milhões de contos em 1986, transformando o país num dos mais pobres do Mundo, e quase exclusivamente dependente da comunidade internacional.
Após o Acordo de Paz de Roma (embora antes tivessem sido já ensaiadas várias tentativas de liberalização) por pressão do Ocidente, incluindo os países nórdicos, foi adoptado o PRE em conformidade com o BM e o FMI de liberalização da economia, cujo impacto embora traduzido em taxas de crescimento na ordem dos dois dígitos, está longe de ter tirado a generalidade da população do país dos níveis de pobreza que são conhecidos.
O que não foi possível inverter ainda é o ciclo político do poder da FRELIMO – efectivamente, é o promotor da campanha dos campos de reeducação do Niassa, Armando Guebuza, que entretanto se transformou num dos homens mais ricos de Moçambique – a este propósito o jornalista Marecelino Mosse elaborou um estudo muito pormenorizado sobre as empresas detidas pelo presidente e o modo de acumulação da sua imensa riqueza – que acaba de ser eleito presidente de Moçambique, o que parece indiciar que a natureza do regime liderado pela FRELIMO (insisto na questão da “não construção do Estado nacional” e da manutenção do predomínio no poder dos povos do sul sobre os do centro/norte) pouco se alterará.