Wednesday, March 09, 2005
A GESTÃO DOS RECURSOS HUMANOS E A "LUSOFONIA"
A propósito do tema da CPLP e LUSOFONIA, permito-me transcrever um artigo que escrevi há algum tempo atrás e publicado na revista “PESSOAL” da APG (Associação Portuguesa de Gestores e Técnicos de Recursos Humanos) que relaciona a CPLP com uma das minhas áreas profisionais (a GRH) e intitulado “A Gestão dos Recursos Humanos e a Lusofonia”.
"A Gestão dos Recursos Humanos e a “Lusofonia”
Na coluna de opinião que assina habitualmente nesta revista (“Pontos de Vista”) a Denise Dutra referia-se, num dos números anteriores, àquilo que denominava por “jeitinho brasileiro de gerir pessoas”.
Dos múltiplos contactos pessoais e profissionais que fui tendo ao longo da vida nos diversos países do espaço da lusofonia (e, nomeadamente, da profunda e enriquerecedora experiência profissional de quase 15 anos à frente da direcção de pessoal da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, gigantesco empreendimento hidroeléctrico luso-moçambicano construído no rio Zambeze em Moçambique, mas sobretudo um riquíssimo espaço intercultural resultante da mistura de trabalhadores moçambicanos, portugueses, sul-africanos, e até franceses e alemães que nele trabalham ou trabalharam) pude constatar que aquilo que a Denise designa por “jeitinho brasileiro” mais não é do que o “improviso português” (Luís Bento “Este nosso jeito de ser” Crónica RH, RP Fev/Mar 2004, havendo mesmo quem defenda o “improviso” ou capacidade de improvisação como uma das vantagens competitivas dos gestores portugueses – Miguel Pina Cunha, professor da Faculdade de Economia da UNL), o “desenrascanço angolano”, o “leve-leve são tomense” ou o “kumfabissa moçambicano” (a expressão nas línguas chissena/chiyungwe maioritariamente faladas no centro/norte de Moçambique, traduzida literalmente para português significa “gerir depressa”) no fundo, diferentes designações de uma mesma realidade que parece ser uma forma comum de gestão (das pessoas).
Para além da língua falada por 230 milhões de habitantes em todo o mundo (património tantas vezes desperdiçado, como o evidencia o facto de as universidades portuguesas não captarem alunos dos PALOP através do “e-learning”, ao contrário dos nossos vizinhos espanhóis em cujas universidades se inscrevem, por esse meio, cada vez mais alunos que usam a língua portuguesa, nomeadamente do Brasil e de Angola), dos laços comuns de há séculos, históricos, sanguíneos, culturais e até da natureza (como dizia alguém sentimo-nos no bairro do “Pelourinho” de S. Salvador da Baía como em Alfama ou em outro qualquer bairro histórico de Lisboa, ou de férias no Nordeste do Brasil comprovei que este é igual ao meu «Moçambique natal», com as mesmas praias de sonho, as mesmas mangueiras, papaeiras, abacateiras, cajueiros e a mesma alegria de viver ...) há muitos outros elementos identitários neste espaço lusófono, aos quais parece poder agora acrescentar-se também esta “visão comum de gerir pessoas”.
A questão é, pois, a de saber como proceder a uma melhor e mais alargada integração no mundo lusófono desse “modo comum da gestão das pessoas”. Antes do mais, pelo intercâmbio entre gestores, pela formação dirigida a empresas ou profissionais da gestão dos recursos humanos, pelo acesso a tecnologias aplicáveis à prestação de serviços na área, pela investigação, colaboração e debate sobre temas emergentes da GRH através da organização de seminários, congressos, eventos e conferências, enfim, pela apresentação de propostas de acção às entidades governamentais representativas das profissões da “gestão das pessoas” nesses países.
A despeito de um maior estádio de desenvolvimento de Portugal e do Brasil relativamente aos outros países que compõem a CPLP, para além das vantagens da troca de experiência entre matizes culturais diferentes, e da abertura de um leque de oportunidades de emprego (e até de negócios das empresas de consultoria ligadas à gestão dos recursos humanos) nesse imenso “espaço comunitário lusófono”, o reforço do relacionamento entre os gestores de recursos humanos destes países, poderia ser motivo de uma enorme aprendizagem e enriquecimento intelectual e humano – atenta a diversidade cultural e a desigualdade do desenvolvimento económico, empresarial e de gestão existente entre os diferentes países – do assumir de novas atitudes de gestão, mesmo da inovação que daí poderia advir para a gestão das pessoas.
Aliás, creio mesmo que o desenvolvimento da CPLP e a saída do marasmo em que actualmente se encontra – a falência dos discursos e da acção dos políticos na cooperação entre os povos da Comunidade é evidente, que terá de reequacionar as suas prioridades e modos de intervenção focalizando os seus desígnios na solidariedade e cooperação entre os países de língua portuguesa – passará pelo desenvolvimento de projectos como este, levados a cabo por outras organizações (associações empresariais, sindicatos, universidades e demais organizações da sociedade civil) visando o reforço do sector empresarial e o apoio às empresas, a criação do emprego, a formação e qualificação das pessoas e a promoção do trabalho digno e qualificado, em benefício de todos os países lusófonos e para uma maior afirmação da lusofonia no mundo globalizado em que vivemos.
Como a mais prestigiada associação de gestores de RH de entre as suas congéneres do espaço lusófono, entendo que cabe à APG – que integra já organizações de recursos humanos de âmbito mundial (WFPMA, IFTDO), europeu (EAPM, ETDF), latino-americano (FIACYD) e mediterrânico (FMRH) – liderar este processo de integração da gestão das pessoas do mundo da lusofonia (há uns anos atrás, terá sido mesmo constituída a UALP-RH - União das Associações de Recursos Humanos de Língua Portuguesa, mas a verdade é que esta nunca chegou a passar do papel) dando vida à entidade então criada, no decurso da realização de um I Congresso dos Gestores de Recursos Humanos dos Países Lusófonos, numa qualquer das muitas e belas cidades (Luanda, Maputo, Rio de Janeiro, Lisboa ...) desse imenso espaço lusófono.
"A Gestão dos Recursos Humanos e a “Lusofonia”
Na coluna de opinião que assina habitualmente nesta revista (“Pontos de Vista”) a Denise Dutra referia-se, num dos números anteriores, àquilo que denominava por “jeitinho brasileiro de gerir pessoas”.
Dos múltiplos contactos pessoais e profissionais que fui tendo ao longo da vida nos diversos países do espaço da lusofonia (e, nomeadamente, da profunda e enriquerecedora experiência profissional de quase 15 anos à frente da direcção de pessoal da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, gigantesco empreendimento hidroeléctrico luso-moçambicano construído no rio Zambeze em Moçambique, mas sobretudo um riquíssimo espaço intercultural resultante da mistura de trabalhadores moçambicanos, portugueses, sul-africanos, e até franceses e alemães que nele trabalham ou trabalharam) pude constatar que aquilo que a Denise designa por “jeitinho brasileiro” mais não é do que o “improviso português” (Luís Bento “Este nosso jeito de ser” Crónica RH, RP Fev/Mar 2004, havendo mesmo quem defenda o “improviso” ou capacidade de improvisação como uma das vantagens competitivas dos gestores portugueses – Miguel Pina Cunha, professor da Faculdade de Economia da UNL), o “desenrascanço angolano”, o “leve-leve são tomense” ou o “kumfabissa moçambicano” (a expressão nas línguas chissena/chiyungwe maioritariamente faladas no centro/norte de Moçambique, traduzida literalmente para português significa “gerir depressa”) no fundo, diferentes designações de uma mesma realidade que parece ser uma forma comum de gestão (das pessoas).
Para além da língua falada por 230 milhões de habitantes em todo o mundo (património tantas vezes desperdiçado, como o evidencia o facto de as universidades portuguesas não captarem alunos dos PALOP através do “e-learning”, ao contrário dos nossos vizinhos espanhóis em cujas universidades se inscrevem, por esse meio, cada vez mais alunos que usam a língua portuguesa, nomeadamente do Brasil e de Angola), dos laços comuns de há séculos, históricos, sanguíneos, culturais e até da natureza (como dizia alguém sentimo-nos no bairro do “Pelourinho” de S. Salvador da Baía como em Alfama ou em outro qualquer bairro histórico de Lisboa, ou de férias no Nordeste do Brasil comprovei que este é igual ao meu «Moçambique natal», com as mesmas praias de sonho, as mesmas mangueiras, papaeiras, abacateiras, cajueiros e a mesma alegria de viver ...) há muitos outros elementos identitários neste espaço lusófono, aos quais parece poder agora acrescentar-se também esta “visão comum de gerir pessoas”.
A questão é, pois, a de saber como proceder a uma melhor e mais alargada integração no mundo lusófono desse “modo comum da gestão das pessoas”. Antes do mais, pelo intercâmbio entre gestores, pela formação dirigida a empresas ou profissionais da gestão dos recursos humanos, pelo acesso a tecnologias aplicáveis à prestação de serviços na área, pela investigação, colaboração e debate sobre temas emergentes da GRH através da organização de seminários, congressos, eventos e conferências, enfim, pela apresentação de propostas de acção às entidades governamentais representativas das profissões da “gestão das pessoas” nesses países.
A despeito de um maior estádio de desenvolvimento de Portugal e do Brasil relativamente aos outros países que compõem a CPLP, para além das vantagens da troca de experiência entre matizes culturais diferentes, e da abertura de um leque de oportunidades de emprego (e até de negócios das empresas de consultoria ligadas à gestão dos recursos humanos) nesse imenso “espaço comunitário lusófono”, o reforço do relacionamento entre os gestores de recursos humanos destes países, poderia ser motivo de uma enorme aprendizagem e enriquecimento intelectual e humano – atenta a diversidade cultural e a desigualdade do desenvolvimento económico, empresarial e de gestão existente entre os diferentes países – do assumir de novas atitudes de gestão, mesmo da inovação que daí poderia advir para a gestão das pessoas.
Aliás, creio mesmo que o desenvolvimento da CPLP e a saída do marasmo em que actualmente se encontra – a falência dos discursos e da acção dos políticos na cooperação entre os povos da Comunidade é evidente, que terá de reequacionar as suas prioridades e modos de intervenção focalizando os seus desígnios na solidariedade e cooperação entre os países de língua portuguesa – passará pelo desenvolvimento de projectos como este, levados a cabo por outras organizações (associações empresariais, sindicatos, universidades e demais organizações da sociedade civil) visando o reforço do sector empresarial e o apoio às empresas, a criação do emprego, a formação e qualificação das pessoas e a promoção do trabalho digno e qualificado, em benefício de todos os países lusófonos e para uma maior afirmação da lusofonia no mundo globalizado em que vivemos.
Como a mais prestigiada associação de gestores de RH de entre as suas congéneres do espaço lusófono, entendo que cabe à APG – que integra já organizações de recursos humanos de âmbito mundial (WFPMA, IFTDO), europeu (EAPM, ETDF), latino-americano (FIACYD) e mediterrânico (FMRH) – liderar este processo de integração da gestão das pessoas do mundo da lusofonia (há uns anos atrás, terá sido mesmo constituída a UALP-RH - União das Associações de Recursos Humanos de Língua Portuguesa, mas a verdade é que esta nunca chegou a passar do papel) dando vida à entidade então criada, no decurso da realização de um I Congresso dos Gestores de Recursos Humanos dos Países Lusófonos, numa qualquer das muitas e belas cidades (Luanda, Maputo, Rio de Janeiro, Lisboa ...) desse imenso espaço lusófono.
Link para o site da APG (Associação Portuguesa de Gestores e Técnicos dos Recursos Humanos)