Thursday, February 24, 2005

O PEDIDO DE DESCULPAS EXIGIDO POR CHISSANO

O pedido de "desculpas oficiais" por parte de Portugal e outros países ocidentais, que usaram "trabalho escravo" e a “dominação colonial” em África exigido pelo ex-Presidente da República de Moçambique Joaquim Chissano, aquando da cerimónia realizada em Braga no passado dia 17 de Fevereiro, onde se encontravam presentes Jorge Sampaio e Mário Soares – e cujo silêncio comprometedor é significativo – e em que recebeu o grau de doutor "honoris causa" em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade do Minho (UM), merece-me algumas reflexões:
Antes do mais, é estranho que o pedido de desculpas seja exigido apenas a Portugal e a outros países ocidentais, como a Inglaterra, França, Espanha, Estados Unidos (curiosamente os países que financiam em mais de 50% o Orçamento de Moçambique) quando se sabe que antes de os portugueses chegarem à costa de Moçambique (no período pré colonial) já os árabes comercializavam escravos no centro e norte do actual território moçambicano (não será certamente por acaso que o norte persista islamizado depois de 500 anos de dominação portuguesa e de nos primórdios do poder frelimista de Samora Machel se ter tentado uma frente anti-islâmica nessa mesma zona). O que se verifica actualmente é que esse poder islâmico, no interior de Moçambique, e a influência do exterior de determinados países árabes cresceu significativamente durante os consulados de Chissano, e daí porventura a omissão da escravatura dos comerciantes árabes.
Por outro lado, meter num mesmo saco “escravatura” e “colonialismo” parece-me forçado, pois como afirmou o famoso jornalista e escritor polaco Kapuscinski – insuspeito pelas suas ligações a África a ponto de a considerar a sua segunda pátria – autor do livro “Ebano” « o tráfico de escravos e não o colonialismo, constitui o grande desastre, a grande tragédia do continente africano. O colonialismo é acusado de todos os males, mas foi um período breve e teve até aspectos positivos. Antes, houve um período três vezes mais longo, de quatro séculos, completamente desastibilizador do povo africano. O tráfico de escravos despovoou o continente, destruiu a sua economia e gerou graves consequências na mentalidade africana»
No fundo, como dizia, a este propósito, Vasco Pulido Valente no seu artigo de opinião do “Público” (20/02/2005) o pedido de desculpas de Chissano parece funcionar mais como um alibi da corrupção reinante nos governos da larga maioria dos países africanos e da miséria em que caíram as respectivas populações no período pós independência
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