Sunday, July 15, 2007
MOÇAMBIQUE terra de feitiços
SEXO, FEITIÇO E RITMO PASSADA
Em Maputo os anos de 1997,1998 e 1999 correram céleres rumo ao ano de 2000.
Maputo, terra quente banhada pelo Sol onde o "diabo" parece voar, circulando, circulando que nem uma mosca varejeira-bailarina, em busca de porcaria para poisar fazendo estragos na sociedade entre os jovens (e não só) eivados de desmedida ambição, consumo exagerado de bebidas alcoólicas, sexo, feitiço, em que a dança a passada até à exaustão sem pensar no amanhã. Não nos esqueçamos da droga globalizada via internet no "uéb saite" (web site) dos "pabes" (pub’s), cafés e barracas – (dumba nengues) da esquina mais próxima da city – cidade noite e subúrbios, e estragos da Sida – HIV – Aids.
Jovens não tão jovens assim, de sangue velho e cansado, outros já vóvós-rapazes e outras vóvós-meninas, por fora quase, quase 16, 17, 18 anos de idade e por dentro desgastados 60, 70, 80 anos mal conservados. Ainda temos os "cotas" ou "madalas" já adultos – os chamados "mais velhos", cansados da vida mas ainda competindo no mercado informal das pitas-meninas sempre disponíveis nas discotecas e dançando passada, ritmo sensual e coleante, tocado também em barracas de cerveja e apartamentos improvisados em discotecas com o volume da aparelhagem electrónica no máximo, infernizando os tímpanos do vizinho, pacato cidadão, cansado de tanta devassidão e falta de civismo.
Contamos inercaladamente nestas crónicas pequenas histórias baseadas nos percursos reais de duas vóvós-meninas e outras duas vóvós-mulheres que até já foram meninas, uma caíu na droga e outra enloqueceu.
Por razões óbvias de respeito pela dignidade humana os nomes foram trocados, mas todos os casos envolvem Sexo, Feitiço e Passada na ilusória curtição da "bô-laife" ou "boa vida" fácil.
Crónicas de uma cidade "herdada" do engenheiro português General Machado, constituída sobre mortes por doenças tropicais e de muito sangue vertido em guerras étnicas e de ocupação colonial.
Vultos inquietos fantasmagóricos desse passado distante envolvem no presente a mesma ex-cidade de Lourenço Marques, edificada na terra de caMpfumo.
Pela cidade e arredores parecem vaguear, sem rumo, fantasmas de pessoas vivas e mortas qual "zombies" de rainhas, reis e de chefes guerreiros va-ronga desenterrados, insepultados e desalojados de suas terras, enquanto esperam a grande missa tradicional do descanso final, vão povoando as mentes sem discriminação num imaginário colectivo das populações que hoje coabitam a cidade capital de Moçambique, provocando agressividade e desajustamentos numa quase psicose colectiva, à espera de um milagre divino que ponha cobro a tanta feitiçaria e regresso ao passado das trevas em que vale tudo até tirar olhos e cortar cabeças.
Mas atenção, esses demónios e talvez alguns anjos também já começaram há muito a emigrar para Portugal, através da herança histórica comum existente – uma ponte: a ponte genética da lusofonia. A étnico-psicanálise seria de utilidade para estudar e tratar estes fenómenos transcendentais que já chegaram à pátria de Camões, o grande poeta da diáspora lusitana.
João Craveirinha «Moçambique, Feitiços, Cobras e Lagartos - Crónicas Romanceadas» (Texto Editora, Outubro de 2001)
Maputo, terra quente banhada pelo Sol onde o "diabo" parece voar, circulando, circulando que nem uma mosca varejeira-bailarina, em busca de porcaria para poisar fazendo estragos na sociedade entre os jovens (e não só) eivados de desmedida ambição, consumo exagerado de bebidas alcoólicas, sexo, feitiço, em que a dança a passada até à exaustão sem pensar no amanhã. Não nos esqueçamos da droga globalizada via internet no "uéb saite" (web site) dos "pabes" (pub’s), cafés e barracas – (dumba nengues) da esquina mais próxima da city – cidade noite e subúrbios, e estragos da Sida – HIV – Aids.
Jovens não tão jovens assim, de sangue velho e cansado, outros já vóvós-rapazes e outras vóvós-meninas, por fora quase, quase 16, 17, 18 anos de idade e por dentro desgastados 60, 70, 80 anos mal conservados. Ainda temos os "cotas" ou "madalas" já adultos – os chamados "mais velhos", cansados da vida mas ainda competindo no mercado informal das pitas-meninas sempre disponíveis nas discotecas e dançando passada, ritmo sensual e coleante, tocado também em barracas de cerveja e apartamentos improvisados em discotecas com o volume da aparelhagem electrónica no máximo, infernizando os tímpanos do vizinho, pacato cidadão, cansado de tanta devassidão e falta de civismo.
Contamos inercaladamente nestas crónicas pequenas histórias baseadas nos percursos reais de duas vóvós-meninas e outras duas vóvós-mulheres que até já foram meninas, uma caíu na droga e outra enloqueceu.
Por razões óbvias de respeito pela dignidade humana os nomes foram trocados, mas todos os casos envolvem Sexo, Feitiço e Passada na ilusória curtição da "bô-laife" ou "boa vida" fácil.
Crónicas de uma cidade "herdada" do engenheiro português General Machado, constituída sobre mortes por doenças tropicais e de muito sangue vertido em guerras étnicas e de ocupação colonial.
Vultos inquietos fantasmagóricos desse passado distante envolvem no presente a mesma ex-cidade de Lourenço Marques, edificada na terra de caMpfumo.
Pela cidade e arredores parecem vaguear, sem rumo, fantasmas de pessoas vivas e mortas qual "zombies" de rainhas, reis e de chefes guerreiros va-ronga desenterrados, insepultados e desalojados de suas terras, enquanto esperam a grande missa tradicional do descanso final, vão povoando as mentes sem discriminação num imaginário colectivo das populações que hoje coabitam a cidade capital de Moçambique, provocando agressividade e desajustamentos numa quase psicose colectiva, à espera de um milagre divino que ponha cobro a tanta feitiçaria e regresso ao passado das trevas em que vale tudo até tirar olhos e cortar cabeças.
Mas atenção, esses demónios e talvez alguns anjos também já começaram há muito a emigrar para Portugal, através da herança histórica comum existente – uma ponte: a ponte genética da lusofonia. A étnico-psicanálise seria de utilidade para estudar e tratar estes fenómenos transcendentais que já chegaram à pátria de Camões, o grande poeta da diáspora lusitana.
João Craveirinha «Moçambique, Feitiços, Cobras e Lagartos - Crónicas Romanceadas» (Texto Editora, Outubro de 2001)