Saturday, February 18, 2006
Xico Magalhães
Friday, February 17, 2006
Luís Santos
Thursday, February 16, 2006
Wednesday, February 15, 2006
GORONGOSA
Apetece-me hoje falar sobre a Gorongosa, primeiro por causa da recente notícia de que sob a coordenação da Carr Foundation - uma instituição criada em 1999, pelo milionário e filantropo norte-americano Gregory Carr - os búffalos, elefantes, rinocerontes, gazelas e zebras estão a regressar em força ao abrigo de um projecto internacional de reabilitação ao Parque Nacional da Gorongosa, que está no bom caminho para voltar a ser uma das principais reservas naturais de protecção da vida selvagem em África, e também porque na minha recente viagem a Moçambique, quando na estrada do Chimoio (ex-Vila Pery) para a Beira, no cruzamento do Inchope, ao ver assinalado o nome da Gorongosa, me veio à memória quando ainda jovem, de tempos a tempos, os nossos passeios de fim de semana tinham por destino o parque (o acesso fazia-se então por uma picada a partir do cruzamento de Vila Machado, actual Nhamatanda), que constituía então um verdadeiro santuário «da maior densidade de animais em África», quase totalmente destruído com a dizimação dos animais durante as duas décadas de guerra civil que se seguiram à independência de Moçambique, e finalmente porque a Gorongosa está no meu íntimo ligada a diversas fases da minha vida.
Antes do mais, e isso será certamente desconhecido de todos, porque a criação do parque se deve a João Pery de Lind, o fundador de Vila Pery (a terra onde nasci) que, como governador do território de Manica e Sofala, por parte da Companhia de Moçambique, e com extraordinária visão do futuro, determinou, pela Ordem n.º 4178, de 2/3/1921, a criação de uma reserva de caça, que pela sua potencialidade, viria a tornar-se no mundialmente famoso “Parque Nacional da Gorongosa”, notável pela sua riqueza e variedade faunística e beleza natural, decisão tanto mais de realçar por ter sido tomada naquela recuada época, em que as questões da protecção da “Natureza” eram ainda letra morta.
Depois, porque conheci e privei de perto na minha infância com o Luís Santos (grande amigo do meu pai) e o Xico Magalhães – quem não se lembra deles em Vila Pery – alguns dos mais famosos caçadores-guias dos safaris da Gorongosa, amantes da caça grossa e grandes divulgadores das potencialidades genéticas e turísticas da “Pérola do Índico” nas capitais da Europa e da América, mas ao mesmo tempo intérpidos defensores da natureza e da fauna bravia, riqueza e património quase inteiramente delapidados pela fúria destruidora do pós-independência.
Finalmente, porque anos mais tarde de volta a África, numa viagem de turismo ao Kruger Park (Sukuza Camp) em 1994, e depois de um safari de 4 dias sem ter visto qualquer leão, perguntei ao “ranger”que nos acompanhava quando veríamos o leão da selva, ao que ele nos replicou que nesta altura do ano era difícil encontrá-los. Foi então que lhe repliquei porque é que no mundialmente famoso Kruger não se viam leões, quando na minha juventude na Gorongosa via leões desde o nascer ao pôr do sol. Depois de se certificar, a partir das referências que lhe fui dando, de que eu não estava a mentir, a supreendente revelação de que embora não conhecendo, mas pelo relato dos caçadores-guia da Gorongosa que nos pós-independência de Moçambique tinham vindo trabalhar para o Kruger, o «parque natural da Gorongosa» dos anos 50/60 que eu tinha conhecido não existia já em parte nenhuma de África. E acrescentou “agora, tudo em África, Quénia (Msai Mara), África do Sul (Kruger), Tanzânia (Seringuetti) é comercial, parecido com a Gorongosa que conheceste, só mesmo a reserva do delta do Okamvambo no Botswana”.
O que me fez feliz, por um lado, por ter tido outrora a possibilidade de disfrutar de um dos últimos “paraísos naturais” de animais do mundo (efectivamente, a Gorongosa de então, apresentava a maior densidade de animais em África, por razões ligadas à grande diversidade de ecossistemas existentes numa superfície relativamente pequena: planícies, savanas, rios, lagos e dois tipos de floresta húmida, que criavam uma abundância de vida selvagem e cenários de grande beleza), triste por verificar que tudo isto foi destruído pela estupidez dos homens (na Gorongosa de hoje, embora os animais estejam a regressar, existem cerca de 250 elefantes, mas só há uma manada de 35 búfalos e, apenas, 7 leões), e esperançado que Greg Carr que considera «este é o projecto mais belo da minha vida» faça com que o “Parque Nacional da Gorongosa” volte a ser uma das principais reservas naturais de protecção da vida selvagem em África.
Antes do mais, e isso será certamente desconhecido de todos, porque a criação do parque se deve a João Pery de Lind, o fundador de Vila Pery (a terra onde nasci) que, como governador do território de Manica e Sofala, por parte da Companhia de Moçambique, e com extraordinária visão do futuro, determinou, pela Ordem n.º 4178, de 2/3/1921, a criação de uma reserva de caça, que pela sua potencialidade, viria a tornar-se no mundialmente famoso “Parque Nacional da Gorongosa”, notável pela sua riqueza e variedade faunística e beleza natural, decisão tanto mais de realçar por ter sido tomada naquela recuada época, em que as questões da protecção da “Natureza” eram ainda letra morta.
Depois, porque conheci e privei de perto na minha infância com o Luís Santos (grande amigo do meu pai) e o Xico Magalhães – quem não se lembra deles em Vila Pery – alguns dos mais famosos caçadores-guias dos safaris da Gorongosa, amantes da caça grossa e grandes divulgadores das potencialidades genéticas e turísticas da “Pérola do Índico” nas capitais da Europa e da América, mas ao mesmo tempo intérpidos defensores da natureza e da fauna bravia, riqueza e património quase inteiramente delapidados pela fúria destruidora do pós-independência.
Finalmente, porque anos mais tarde de volta a África, numa viagem de turismo ao Kruger Park (Sukuza Camp) em 1994, e depois de um safari de 4 dias sem ter visto qualquer leão, perguntei ao “ranger”que nos acompanhava quando veríamos o leão da selva, ao que ele nos replicou que nesta altura do ano era difícil encontrá-los. Foi então que lhe repliquei porque é que no mundialmente famoso Kruger não se viam leões, quando na minha juventude na Gorongosa via leões desde o nascer ao pôr do sol. Depois de se certificar, a partir das referências que lhe fui dando, de que eu não estava a mentir, a supreendente revelação de que embora não conhecendo, mas pelo relato dos caçadores-guia da Gorongosa que nos pós-independência de Moçambique tinham vindo trabalhar para o Kruger, o «parque natural da Gorongosa» dos anos 50/60 que eu tinha conhecido não existia já em parte nenhuma de África. E acrescentou “agora, tudo em África, Quénia (Msai Mara), África do Sul (Kruger), Tanzânia (Seringuetti) é comercial, parecido com a Gorongosa que conheceste, só mesmo a reserva do delta do Okamvambo no Botswana”.
O que me fez feliz, por um lado, por ter tido outrora a possibilidade de disfrutar de um dos últimos “paraísos naturais” de animais do mundo (efectivamente, a Gorongosa de então, apresentava a maior densidade de animais em África, por razões ligadas à grande diversidade de ecossistemas existentes numa superfície relativamente pequena: planícies, savanas, rios, lagos e dois tipos de floresta húmida, que criavam uma abundância de vida selvagem e cenários de grande beleza), triste por verificar que tudo isto foi destruído pela estupidez dos homens (na Gorongosa de hoje, embora os animais estejam a regressar, existem cerca de 250 elefantes, mas só há uma manada de 35 búfalos e, apenas, 7 leões), e esperançado que Greg Carr que considera «este é o projecto mais belo da minha vida» faça com que o “Parque Nacional da Gorongosa” volte a ser uma das principais reservas naturais de protecção da vida selvagem em África.